terça-feira, 18 de janeiro de 2011

MATURIDADE EM CRISTO

O caminho e a forma da maturidade cristã nunca foi muito claro, pelo menos para mim. Durante muito tempo, ser um cristão maduro significava ser uma pessoa moralmente correta e de valores elevados e nobres. Esta forma estóica de compreender a vida cristã teve grande influência nos anos 60 e 70, quando a espiritualidade era associada a um modelo de moral cristã. Naquele tempo,ser um crente maduro significava ser uma pessoa casta, honesta, íntegra, comprometida, responsável com as próprias obrigações e com certo grau de heroísmo em suas ações e renúncias. Reconheço que são valores bons e altruístas e que representam, de alguma forma, o testemunho de um cristão; mas não me parece que ser um cristão maduro seja apenas isso. Uma outra forma de identificar um crente maduro tem sido pela sua capacidade de articular bem a teologia e a doutrina cristã, principalmente se for de uma corrente mais conservadora. O zelo pela Palavra de Deus, a firmeza das convicções, a segurança na proclamação e defesa da fé evangélica e a lealdade para com confissões históricas sempre foi considerado um sinal de maturidade. E a maturidade cristã passa, de alguma forma, por este caminho; mas não acredito que ela se restrinja somente a isso, nem mesmo numa combinação com o anterior.
Alguns afirmam que a verdadeira maturidade cristã acontece quando tudo se transforma em experiências concretas e pessoais – por meio do poder do Espírito Santo, a moral deixa de ser um simples moralismo para se transformar numa manifestação viva do poder de Deus. Assim, pecadores são transformados em santos e o conhecimento, zelo e defesa da verdade evangélica deixam de ser realidades intelectuais e se transformam em testemunho vivo e poderoso da graça de Deus. Concordo. Mas ainda penso que a questão vai um pouco além.
Uma outra forma de considerar a maturidade cristã é vinculando-a com um tipo de “bem estar” emocional. A influência da psicologia moderna na experiência cristã é um fator importante nessa nova compreensão do processo de amadurecimento cristão. Ser uma pessoa emocionalmente bem resolvida, realizada, que não carrega sentimentos de culpa, que goza de relacionamentos mais “profundos” e superou as limitações dos modelos moralistas das estruturas religiosas opressoras, é sinônimo de maturidade. De certa forma há uma contribuição positiva nisso tudo, mas que apenas tange o propósito divino.
Em sua carta aos filipenses, Paulo nos apresenta um caminho para a maturidade espiritual e cristã. Do ponto de vista moral e legal, Paulo poderia ser considerado uma pessoa madura, pois cumpria os requisitos da lei e andava de acordo com os padrões morais da sua cultura e religião. Era também zeloso, responsável e coerente para com suas convicções e seus compromissos religiosos. Ele mesmo se afirmava “circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu; quanto ao zelo, perseguidor da Igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível”.
O que chama a atenção é que, para Paulo, tudo aquilo que temos considerado fundamental para o caminho da santidade e do amadurecimento era considerado como “esterco” diante do que é superior e sublime. Para o apóstolo, o que poderia representar, mesmo que de longe, alguma forma de esforço pessoal que pudesse trazer um certo orgulho moral ou espiritual, era considerado como “perda” por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus. Logo, o caminho da santidade e da maturidade não é o caminho do esforço moral, do legalismo ou mesmo de um zelo que nos proporciona status elevado, colocando-nos numa posição superior, inflando egos frustrados e promovendo uma forma espiritualidade auto-indulgente e auto-suficiente.
Neste caminho, Paulo reconhecia duas realidades. Primeiro, precisava deixar para trás tudo aquilo que o impedia de avançar. O autor de Hebreus também nos fala sobre isso quando diz: “Desembaraçando-nos de todo o peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta” (capítulo 12:1). O passado cria embaraços, laços e amarras que nos impedem de caminhar. Muitos cristãos vivem como se arrastassem bolas de chumbo amarradas aos pés. São memórias de abusos, rejeições, abandonos, decisões malfeitas, escolhas erradas, frustrações, desilusões, mágoas e tantos outros pesos e pecados que permanecem conosco como fantasmas. Paulo não propõe que estas memórias e experiências sejam negadas ou varridas para debaixo do tapete. Ele sugere que sejam deixadas para trás. Ou seja, elas não podem determinar o presente ou o futuro – precisam ser enfrentadas e tratadas pela cruz de Cristo.
A segunda realidade que Paulo reconhece é a necessidade de prosseguir no caminho tendo diante dos olhos “o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” ou simplesmente “o autor e consumador da fé – Jesus”. O crescimento e amadurecimento espiritual não é fruto de algum ajuste psicológico ou sociológico, de uma boa formação teológica ou domínio das doutrinas bíblicas; muito menos um volume de experiências místicas na bagagem espiritual. Amadurecer implica caminhar perseverantemente em direção a Cristo, de tal forma que sua vida gloriosa seja vivida por nós pelo poder do Espírito Santo.
Quando Paulo afirma “já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim”, ele não está afirmando uma espécie de fusão de vidas ou alguma forma de anulação de sua personalidade. O que ele declara aqui é que, pelo poder do Espírito Santo, a comunhão com o Senhor é possível no sentido de que ele torna nosso tudo aquilo que é dele em sua humanidade encarnada. É por isso que Paulo nos diz que, em seu caminho em direção a santidade e ao amadurecimento cristão, ele busca conformar-se com Cristo em sua vida, sofrimento, missão e ressurreição.
Não resta dúvida que os valores morais, o conhecimento teológico ou a estabilidade emocional sejam marcos importantes no testemunho cristão, mas não devemos confundir isto com a sublimidade do conhecimento de Cristo.

Pr. Ricardo Barbosa de Souza
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