sexta-feira, 8 de junho de 2012

A SOBERANIA DE DEUS


Todos nós precisamos constantemente afirmar e reconhecer o poder de Deus. É bom saber que o Deus em quem nós cremos é soberano e governa sobre todas as coisas, que nada escapa ao seu controle, que nem mesmo um fio do cabelo de nossa cabeça cai sem o seu consentimento e que ele mesmo conduz todas as coisas para o cumprimento dos seus propósitos eternos. É bom saber que mesmo os que se julgam poderosos e agem com extrema arrogância encontram-se sob o domínio daquele que reina para sempre, e que um dia se curvarão diante dele e o reconhecerão como Senhor. "O Senhor reina" é a confissão de fé de todos os crentes, em todas as épocas da História.
Contudo, se de um lado reconhecemos e afirmamos o poder e a soberania de Deus, e gostamos de saber que ele governa - pois é esta verdade que nos dá segurança e esperança -, nem sempre demonstramos a mesma alegria com a forma como Deus reina e dirige a vida de cada um de nós. Queremos o seu poder para solucionar os conflitos que nos afligem, para nos abençoar com as dádivas que necessitamos, mas quando Deus usa este mesmo poder para nos disciplinar e nos libertar das algemas que nos aprisionam, mas que aprendemos a gostar tanto delas, é comum nos revoltarmos contra ele. Quando Deus usa o seu poder para nos fazer andar por caminhos que não planejamos e experimentar as provações que necessitamos para nossa transformação, mas que nos ferem e trazem grande sofrimento, levantamos suspeitas sobre o seu amor e poder.
É assim que temos vivido. Nossas crenças são experimentadas de acordo com nossas conveniências e não contemplam a totalidade das nossas experiências. Somos gratos quando nos convém ser gratos, quando coisas boas acontecem e podemos dizer "obrigado" com tranqüilidade. Mas quando coisas ruins acontecem, quando passamos por momentos de dor e tristeza, fracasso e rejeição, transformamos a gratidão em murmúrio e desconfiança. Quando nos sentimos "abençoados" e experimentamos o sucesso na vida profissional, a paz na família, a segurança no trabalho, a alegria da comunhão com os irmãos, a estabilidade financeira, o reconhecimento e aceitação daquilo que somos e fazemos, não temos nenhuma dificuldade para reconhecer que é Deus que nos tem guardado e abençoado com seu poder; todavia, quando vivemos o reverso desta moeda, tiramos Deus de cena e colocamos o diabo, as forças ocultas, os inimigos e as incompreensões. Aí, tornamo-nos pessoas amargas, incapazes de reconhecer o poder e soberania de Deus na nossa vida e sobre todas as cosas.
Sei que é difícil mudar isto e não estou propondo que devemos reagir do mesmo jeito em todas as circunstâncias porque cremos na soberania de Deus. A alegria e a tristeza, a dor e o consolo encontrarão sua forma própria de se expressar. No entanto, as nossas convicções precisam se estender a todas as situações vividas e isto requererá um longo e duro trabalho espiritual. Só iremos amadurecer espiritualmente quando formos capazes de dizer em qualquer situação vivida: "o Senhor reina".
Enquanto permanecermos divididos entre os eventos e pessoas que gostamos de lembrar e aqueles que procuramos esquecer, as experiências que nos agradam e aquelas que nos causam pesar e desapontamento, não poderemos afirmar o governo pleno de Deus sobre nossas vidas. Em conseqüência, isto irá nos levar a não reconhecê-lo em todos os nossos caminhos.
Reconhecer que o Senhor reina nos levará a aceitar que tudo o que experimentamos, todas as situações vividas, os encontros e pessoas que passaram e ainda passarão pela nossa vida e todas as circunstâncias cooperam para o nosso bem. Jó, depois de ter passado por uma experiência terrível, após ter perdido todos os seus bens, ver sua família sendo dizimada, sua honra e prestígio virando pó, volta-se para Deus e, numa oração singela, diz: "O Senhor deu, o Senhor tomou. Bendito o nome do Senhor". Jó mantém sua fé e confiança no reinado de Deus e não divide sua alma. Ele não diz: "O Senhor deu e o diabo tomou", o que poderia ser até compreensível. Mas ao dizer que foi o Criador que deu e tomou, ele estabelece um princípio que integra sua crença com sua vida. É esta integridade que possibilita a Jó viver uma das experiências mais transformadoras de toda sua existência.
Precisamos dar um pouco mais de coerência às nossas crenças, reconhecendo a soberania de Deus em tudo, e aprender a ser gratos pela forma como ele nos conduz no mundo. Precisamos romper com o medo e a suspeita e aprender a olhar para tudo que acontece conosco a partir da verdade de que o Senhor reina. E confiar que ainda veremos a sua boa e segura mão nos guiando.
Confiança é a condição básica para vivermos uma vida espiritualmente madura. Os trapezistas nos oferecem uma belíssima imagem disto, pois a condição da sua arte depende da confiança naquele que irá segurá-lo. Eles podem aventurar-se a saltos mortais triplos porque sabem que o outro estará lá, no lugar certo, na hora certa. Enquanto não confiamos que Deus nos sustenta e guarda, que nos segura e protege, viveremos uma vida dividida entre aquilo que gostamos e cremos proceder de Deus e aquilo que não gostamos e desconfiamos da sua procedência. Ao fazer isto, viramos juízes dos atos de Deus. Julgamo-nos melhores do que o próprio Deus.
Na história de Jó, sabemos que foi o diabo que impôs sobre ele aquela enorme tragédia, mas ao dizer que Deus deu e Deus tomou, ele reconhece que sua vida nunca encontrou-se dividida, que o reinado de Deus é pleno e absoluto, e buscou no Senhor que reina a resposta para seus conflitos.
Precisamos unir nossas vozes a de muitos outros irmãos e irmãs, e adorar aquele que reina pelos séculos dos séculos, reconhecendo que seu governo se estende sobre todas as coisas e que conduzirá tudo para o fim que ele mesmo determinou.

Pr. Ricardo Barbosa de Souza
Texto extraído originalmente da coluna Espiritualidade da Revista Eclésia



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