A nobreza humana é
fruto do longo caminho percorrido por aqueles que, com perseverança, amor,
bondade e fidelidade, vão escrevendo sua história.
Tenho me perguntado
com relativa frequência: por que as pessoas são tão resistentes ao
amadurecimento? Por que tem se tornado tão raro ver homens e mulheres crescendo
emocionalmente e espiritualmente? Convivo com pessoas que, apesar de todas as
experiências já vividas, depois de terem lido bons livros, conversado com
pessoas maduras e inteligentes, de terem passado por escolas e universidades,
ouvirem boas palestras e saberem quase tudo o que a Bíblia ensina, permanecem
imaturas. Pessoas assim resistem com todas as forças a qualquer mudança;
repetem os mesmos erros, as mesmas dúvidas, os mesmos sentimentos de rejeição;
implicam com as mesmas coisas, oram pelos mesmos assuntos, brigam as velhas
brigas. Dão a impressão de que não avançaram um milímetro no caminho do
amadurecimento, não subiram nenhum degrau na escada do crescimento, não deram
nenhum passo em direção a uma vida mais verdadeira. Alguns dão a impressão de
que, na verdade, andaram para trás, retrocederam, tornaram-se piores do que já
foram.
Basta olhar à volta
e ver como as pessoas estão envelhecendo. É raro encontrar hoje um idoso
maduro, sábio, bem humorado, destes que já viveram o bastante e souberam
aproveitar cada experiência, que não vivem por aí resmungando e reclamando da
vida, lamentando a idade e as oportunidades perdidas. Têm sempre uma boa
palavra, um bom conselho; sabem envelhecer e não ficam procurando,
pateticamente, viver como um adolescente, achando que o bonito está em
retroceder e que a velhice é um estágio da vida que precisa ser deletado.
Penso que a
resistência ao amadurecimento tem alguma relação com a resistência ao
envelhecimento. Certamente, há muitas razões para a letargia emocional e
espiritual em que nos encontramos hoje. Na verdade, ao olharmos para as
virtudes cristãs, vamos perceber que, uma a uma, vêm sendo desprezadas e
desconsideradas em nossa gloriosa civilização moderna e tecnológica. Humildade,
simplicidade, castidade, generosidade, amor, bondade, paciência, coragem,
lealdade, fidelidade, perseverança e gratidão vêm sendo substituídos por
orgulho, vaidade, ambição, egoísmo, pressa, luxúria, inveja, traição,
inconstância e ciúme. Somos, hoje, uma geração que não sabe mais amar, mas
fazer sexo; que transformou o velho pecado da ambição na virtude da competência
e da competitividade; que fez da vaidade a porta de acesso às banalidades
sociais e do egoísmo uma arma de sobrevivência.
A paciência há
muito deixou de ser uma virtude e, em seu lugar, cresceu o espírito da urgência
e da pressa que, com seu pragmatismo funcional, atropelou o longo caminho da
construção da dignidade e da honra. O sentimento de gratidão vem sendo
substituído pela luta pelo direito e não há mais em nós aquele sentimento de
dívida, que, no passado, moldou o caráter das pessoas que contribuíram com seu
sacrifício para com a humanidade, porque reconheciam, com profunda gratidão,
que tudo o que tinham lhes havia sido doado. O amor e a castidade perderam sua
nobreza, transformando o corpo num artigo barato, usando a sensualidade como
moeda para adquirir alguns momentos de euforia sexual.
Há um tempo atrás
escrevi um artigo alertando contra o perigo dos atalhos. Minha preocupação era
a mesma de hoje. A nobreza humana é fruto do longo caminho percorrido por
aqueles que, com paciência e perseverança, gratidão e respeito, amor e bondade,
fidelidade e lealdade, vão escrevendo sua história rumo à maturidade. São
pessoas que sabem aproveitar cada experiência vivida, que não fogem do
sofrimento e da dor, que reconhecem que tudo o que tem valor encontra-se nas
profundezas da alma e precisam ser garimpados com paciência e perseverança.
Há uma metáfora do
apóstolo Paulo que nos ajuda a entender isso. Ele compara a vida a uma corrida,
na qual, para ganhar o prêmio, o corredor precisa de duas coisas: manter diante
de si o alvo e ter disciplina. Para ele, a vida deveria ser olhada assim.
Ele afirma que
corria como quem sabe aonde quer chegar e, como todo atleta, impunha sobre si a
disciplina necessária para ter a certeza de que não correu em vão. A imaturidade
é o resultado de uma história vivida sem consciência de destino e sem
disciplina.
A sensação de
vazio, o tédio e falta de significado é o que move as novas gerações. Não se vê
mais um sentido de missão ou consciência vocacional; não se sabe para onde
caminham e nem os valores que abraçam. Os apelos da propaganda, as inúmeras
ofertas e possibilidades, a agitação das festas e bares, os convites para as
mais variadas atividades, levam a uma falsa sensação de preenchimento e
significado. Contudo, quando as luzes se apagam, o barulho cessa, a multidão
desaparece e a ressaca acaba, não sobra nada a não ser um vazio que insiste em
dizer, silenciosamente, que o caminho não é este, que o alvo se perdeu, que as
forças estão se esvaindo – e o tédio começa a bater mais fortemente na porta.
A maturidade
tornou-se um artigo raro na sociedade pós-moderna. Alguns dias atrás, uma
senhora me procurou para falar dos planos de casamento de sua filha. No meio da
conversa, sua preocupação com a maturidade do casal, particularmente de sua
filha, ficou evidente. Ela tinha certeza de que não estavam preparados para
celebrar uma aliança tão importante e vital para suas vidas. No fim da
conversa, ela disse num tom irônico: “Mulheres como eu, capazes de enfrentar as
lutas que enfrentei, trabalhar, criar os filhos, amar o marido mesmo nos
momentos mais difíceis, honrar a aliança que fizemos, superar as diferenças e
chegar a esta altura da vida mais plena e mais verdadeira, apesar de todas as
cicatrizes que ficaram, é coisa rara, pastor, muito rara”. Ela estava certa.
Pr. Ricardo Barbosa de Souza
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