
Experimentar a compaixão em nossa vida é enxergar o amor e o cuidado de Deus. É perceber que ainda resta um fio de esperança na humanidade e um pouco de humanidade nos corações sempre tão endurecidos. Muito diferente do sentimento de pena ou dó, que não edifica nem promove comprometimento, mas reforça o individualismo.
O olhar de compaixão jamais pode ser comparado, nem de longe, ao olhar de pena.
O olhar de compaixão aproxima, coloca-nos no lugar do outro e permite que a dor alheia encontre em nós a mesma dor, ainda que escondida no íntimo do nosso ser.
O olhar de pena, não. É o olhar distanciado, daquele que se considera superior, numa situação privilegiada. Sentir dó é ver o sofrimento alheio, mas não enxergar o outro em sua dor.
Com certeza, é muito mais fácil e comum sentirmos pena dos outros. Não nos compromete, não nos envolve. Podemos até oferecer ajuda material para aplacar a culpa da indiferença.
Diante de um mendigo, podemos dar-lhe um trocado sem nem enxergá-lo, ou podemos lançar-lhe, também, um olhar de amor e misericórdia. Com certeza, o dinheiro será útil, mas, sozinho, não trará esperança e conforto. Ao visitar um doente num hospital, podemos levar-lhe flores ou biscoitos, mas estar ali, junto dele, compartilhando a tristeza e o sofrimento, será um remédio mais valioso para a cura.
A falta de compaixão num indivíduo encontra eco no falso moralismo, na acomodação, na vergonha de se expor, no medo de julgamento, mas tem como ponto fundamental o egoísmo.
Na parábola, o levita e o sacerdote agiram em causa própria e não se importaram com o seu próximo. Viram o homem e, provavelmente, tiveram pena dele. Mas, tinham coisas a perder que lhes pareciam mais valiosas do que uma vida e passaram direto, sem oferecer ajuda.
O samaritano não considerou imposições ou barreiras externas, simplesmente permitiu Deus ser revelado em sua vida através da compaixão. Agiu movido pela necessidade do outro. O sofrimento alheio encontrara lugar em seu coração.
Dó é frieza, compaixão é calor humano. Dó é egoísmo, compaixão é amor. A compaixão é, acima de tudo, a manifestação de Deus através do homem.
Somente quem se viu ferido, desprezado ou perdido sabe o valor de um ato de compaixão, sem julgamento e de forma incondicional.
Jó, em sua angústia, teve amigos que se achegaram a ele, mas que não conseguiram entender a necessidade de ter sua dor compartilhada e compreendida. Para confortá-lo, era necessário encontrar no âmago dos seus corações a mesma dor que se instalara na vida de Jó.
Jesus foi o exemplo maior de compaixão. Em sua vida aqui na terra, sofreu com os humilhados, fracos e angustiados. Entendeu sua dor, incapacidade e destino. As pessoas sofridas eram enxergadas pelo próprio Jesus, que tomava a iniciativa de aliviá-las e confortá-las.
Em sua morte, Ele colocou-se em nossa condição. E ainda foi além da compaixão, pois não sofreu “junto a nós” os nossos castigos, mas “em nosso lugar”.
Passar por problemas, sofrimentos e angústias é inevitável para todos nós. Mas, é consolador saber que podemos passar por estes momentos tendo uma mão abençoadora estendida em nossa direção. E, da mesma forma, podemos nos doar e sermos participantes do sofrimento do nosso próximo.
A compaixão é a forma mais nobre e bondosa de revelarmos o grande amor e cuidado de Deus pela humanidade e a esperança aos corações perdidos e necessitados!
Rosane Itaborai Moreira