quarta-feira, 22 de abril de 2009

SONDA-ME


"Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho perverso, e guia-me pelo caminho eterno." (Sl. 136.23,24).
Lemos e cantamos este salmo escrito por Davi e oramos a Deus pedindo que sonde os nossos corações e transforme aquilo que não está conforme a Sua vontade. Pedimos que nos dê um coração sincero, singelo, que nos permita obedecer e agradar ao Senhor.
Sondar significa examinar a fundo o coração e a consciência, buscar entrar no perfeito conhecimento das coisas; procurar descobrir o que é oculto e encoberto.
Mas, será que temos permitido que o Senhor aja em nossas vidas nesse sentido; ou apenas levantamos nossas vozes repetindo o que aprendemos? Será que sabemos e acreditamos no que falamos ao nos dirigirmos a Ele? Ou será que temos medo de ser examinados e questionados?
Verdadeiramente, é muito difícil colocar nossa vida e nosso interior em exposição, ainda que seja para Deus, que já conhece tudo de nós, ou para nós mesmos.
Ao nos permitirmos ser sondados pelo Senhor, temos que estar preparados para nos conhecer a fundo e nos deixar ser transformados. Isso requer quebrantamento, entrega, abdicação e determinação para mudanças. Muitas vezes, exige de nós sofrimento, provações e lutas interiores.
Preferimos as trajetórias mais curtas e fáceis, os atalhos, que nos afastam dos caminhos retos do Senhor e podem ser dolorosos. Preferimos o oculto e escuro, pois a luz pode nos revelar cegos, nus e impuros. Preferimos a aparência e a superficialidade, pelo medo de nos apavorarmos com os nossos monstros, pecados e iniqüidades. Preferimos a máscara, que nos permite parecer sem ser. E que não exige mudança nem empenho. Vamos vivendo como se tudo estivesse muito bem, freqüentando nossos cultos semanais, nossas reuniões sociais, agradando e enganando a todos e a nós mesmos.
Mas Deus deseja que sejamos confrontados e colocados frente a frente conosco e com Ele. Se nossa intenção é agradar o Senhor isso deve ser inevitável. Teremos nossos sentimentos, intenções e motivações colocados à prova, mas serão removidas toda sujeira e maldade e seremos purificados e lapidados. Como um espelho refletindo nossa vida, veremos nosso interior, para que, transformados, andemos com Deus em caminhos retos.
Mais do que vergonha, essa situação permite que sejamos preparados para uma vida definitiva e eterna com o Senhor. Enquanto caminhamos aqui na terra, temos sidos aperfeiçoados por Deus na nossa vida pessoal e espiritual e na nossa caminhada cristão.
Esse processo em nossa vida pode acontecer quando nos entregamos e confiamos no Senhor; ou então, quando, sem nossas forças e riquezas próprias, tudo o que nos resta é Deus. Tornamo-nos totalmente dependentes dEle e nos rendemos para que Ele trabalhe em nossos corações.
Em Apocalipse, Jesus escreve à Igreja de Laodicéia, repreendendo-a por ser miserável, pobre, cega e nu, mas ter seus pecados e infelicidade encobertos pelas riquezas materiais e orgulho. Se, da mesma forma, formos soberbos e não permitirmos ser sondados e transformados por Deus poderemos ser censurados e disciplinados por Ele.
Mas, também como à Igreja, em Sua infinita misericórdia, Ele nos faz um chamado de comunhão para abrirmos as portas de nossos corações: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo.” (Ap. 3.20).
Se quisermos caminhar com o Senhor, nossa resposta deve ser como a oração de Davi: Eis-me aqui, Senhor, “sonda-me... prova-me... conhece... vê... guia-me...”.

Rosane Itaborai Moreira

quinta-feira, 9 de abril de 2009

AMOR AO DINHEIRO




“O homem mais pobre que conheço é aquele que não tem nada mais do que dinheiro.”
John D. Rockefeller





Propagandas elaboradas, vitrines iluminadas, carros importados, celulares modernos, roupas caras, pessoas lindas e bem-sucedidas... Tudo isso induz o homem a colocar sua expectativa e esperança nos desejos materiais que nunca são preenchidos, pois não satisfazem sua real necessidade.
Os cursos de especialização em marketing, em artigos de luxo e em produtos de consumo crescem a cada dia, garantindo a perpetuação deste mercado sedutor. Até nas igrejas existe tal oferta, ainda que disfarçada de “dádiva de Deus”, “obrigação do Senhor” ou “devolução do diabo”.
Satisfazer as necessidades de consumo é hoje prioridade para a maioria das pessoas; no entanto, seus corações correm o risco de serem moradas do que Paulo advertiu e condenou: o amor ao dinheiro. “Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores” (1 Tm. 6.10).
O resultado dessa idolatria é sempre destrutivo, levando o ser humano ao aprisionamento, sofrimento e morte espiritual. Pois, “...cada um é tentado, pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte” (Tg. 1,14,15).
Na Bíblia, encontram-se relatos de pessoas que foram envolvidas pelo amor ao dinheiro e tiveram trágico destino: Judas Iscariotes ao trair Jesus, Ananias e Safira ao mentir para o Espírito Santo, Geazi ao ser seduzido pela oferta de Naamã.
Simão, o mágico, ao desejar comprar o poder do Espírito Santo, foi repreendido por Pedro: “O seu dinheiro seja contigo para perdição, pois julgaste adquirir, por meio dele, o dom de Deus” (At. 8.20). Até no templo a busca pelo dinheiro era favorecida (cf. Jo. 2.15), o que mereceu a intervenção enérgica de Jesus.
Aquele que é seduzido pela riqueza torna-se dela amante e escravo: “porque onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração”, adverte Jesus (Mt 6.21). E logo depois declara: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas”.
Jesus disse que cuidaria de cada um dos seus, que estes não precisariam viver frenética e ansiosamente atrás de coisas materiais, porque o mais importante é o Reino de Deus.
Este cuidado divino tem sido rejeitado pelos cristãos. Todos se ocupam em atender aos seus prazeres e desejos e se esquecem de que estão se afastando do Senhor. Com discurso de uma “necessidade real e urgente”, estão trocando de deus.
Mas, o poder do dinheiro é ilusório e tira o homem do que deveria ser seu foco principal. Desvia-o de suas riquezas verdadeiras, ou seja, virtudes, descanso, paz, família, amigos e, principalmente de Deus.
A fé e o amor ao Senhor precisam ser demonstrados na prática. Os conceitos do mundo não podem ser os conceitos dos crentes em Cristo. Por isso, é dito na Bíblia que entrar no Reino de Deus é tão difícil; requer desprendimento das coisas materiais, prioridade em amar a Deus e renúncia aos próprios desejos.
Os verdadeiros cristãos têm pela frente esta batalha a travar: resistir às tentações diária e sedutoramente oferecidas pelo maligno através da sociedade de consumo, já que é nele que o mundo jaz.
A frase de John Wesley, avivalista inglês, resume bem este dilema: “Poucas coisas testam mais profundamente a espiritualidade de uma pessoa do que a maneira como ela usa o dinheiro, pois a verdadeira medida de nossa riqueza está em quanto valeríamos se perdêssemos todo nosso dinheiro. Por isso, quando tenho um pouco de dinheiro, livro-me dele tão logo seja possível, para que ele não encontre o caminho do meu coração”.
O coração de todo cristão deve ser preenchido pelo seu imenso amor ao Senhor a ponto de não haver lugar para outro deus em sua vida.

Rosane Itaborai Moreira

quinta-feira, 2 de abril de 2009

ARTIGO DE PAULO CILAS




Esse texto foi escrito pelo meu pastor e amigo Paulo Cilas.







VASOS DE BARRO

" Temos esse tesouro em vasos de barro, para que a excelência da glória seja do Senhor e não nossa." (2 Co.4:7)

Praticamente vivi minha vida no ambiente de igreja. Posso dizer com tranquilidade (minha tranquilidade) que o maior problema que observei foi e é a insana tentativa da igreja em se tornar vaso de ouro: valioso e forte. Vi muitos se definhando na tentativa de serem melhores. Vi outros tantos frustrados pelo caminho por terem falhado em algum momento. Pior, talvez: vejo uma grande massa vagando como aves migratórias buscando agora aquela "igreja" que enfim vai fazê-la imbatível, definitivamente invulnerável. E eu disse pior anteriormente? Acho que me enganei. Provavelmente o pior é ter visto inúmeras vezes "gente perfeita" apedrejando os fracassados impuros, indignos de estarem juntos de uma estirpe sacrossanta.
E, enquanto a compreensão do que é ser vaso de barro não vem, vamos deixando de cumprir princípios maravilhosos da excelência de Jesus em nossa existência. Chorar com os que choram fica inviável porque temos que ensinar aos que choram palavras, declarações e meandros da doutrina para que tais não se mostrem tão frágeis, afinal, "nosso Deus é forte e o diabo já está vencido". E seguir o conselho de Paulo aos Gálatas, então? No cap.6:1 ele diz que os espirituais devem restaurar em mansidão o pecador surpreendido . Deixamos ainda de compreender a Nova Aliança, que é perfeita, já que ela está disposta sobre pelo menos duas verdades centrais: a nossa total incapacidade em cumprir as regras da Antiga Aliança e a Graça indescritível revelada em Jesus que nos aceita como somos, barro. E ainda por cima vamos criando novos rituais pelos quais consigamos nos tornar "vasos de ouro".
Mas percebo que é difícil admitir nossa fragilidade. Dói muito reconhecer limitações, mesquinharias, vontades oportunistas e interesseiras travestidas, muitas vezes, ora até mesmo de piedade em nome de Jesus, ora de autoridade espiritual. Dói assumir que, mesmo "maduros",vacilamos. Para muitos isto é por demais decepcionante.
Já para outros a dificuldade reside em abrir mão da aparência sempre vitoriosa uma vez que o mercado tanto secular como religioso assim exige. Não há lugar para fracos!
Agora, não importando as razões ou a falta delas que nos impedem de enxergarmo-nos como vaso de barro, o triste é desperdiçar a riqueza do tesouro do qual Deus nos fez receptáculo. Não é de admirar o porquê que muitos rejeitam Jesus, o porquê de querermos tanto ganhar esta vida aqui. Parece que esperamos em Deus somente para esta vida. Enfim, tudo contrário ao que está escrito na Bíblia. Somos nós querendo ser vasos valiosos desprezando com isto a excelência do Senhor e o tesouro nos dado graciosamente.

Paulo Cilas Morais Lyra

quarta-feira, 1 de abril de 2009

ARTIGO DE RUBEM AMORESE




"Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados." (Mt.5.4)





LÁGRIMAS BENDITAS

Existem muitos tipos de choro, correspondentes às emoções que lhes dão origem. Há o choro do ódio, do inconformismo, do luto, do susto, da birra e tantos outros. Mas há um choro para o qual o consolo é promessa de Deus. Como aprender a chorar esse choro?
Nossa “consciência de consumidor”, em sintonia com o mercado, não sabe chorar esse choro; sabe exigir qualidade, sabe acionar o Procon. Nossos corações urbanos e “midiáticos”, bombardeados diariamente por doses maciças de violência, já não choram diante da tragédia. Nossas almas cidadãs, conduzidas à pusilanimidade por “pais” que nos provocam à ira com suas deslavadas mentiras eleitoreiras e terminam por matar nossos idosos nas filas do INSS, vertem lágrimas amargas e revoltadas. Nossos filhos, quando contrariados, choram como pivetes e sonham sair de casa.
Em todos esses casos, porém, as lágrimas benditas não são vertidas. E o consolo não lhes é garantido. Nem esperado.
Certamente, olhando para o contexto das bem-aventuranças, percebemos que este choro estará nos olhos e no coração do pobre de espírito; aquele que se vê fraco, incompetente, impotente, vulnerável e carente de Deus. Sim, ao mesmo tempo em que estende a mão para suplicar misericórdia, chora, tomado pela emoção do quebrantamento.
Quem há de herdar e povoar o reino dos céus? Certamente, por todo esse contexto, é aquele que não tem, pois há de receber; aquele que depende, pois há de ser ajudado; aquele que é fraco, porque o poder de Deus se aperfeiçoa na fraqueza; os destituídos, pois a eles reserva-se graça; e os humildes e humilhados, de todo gênero, pois hão de ser exaltados.
Ora, se estiver correta essa interpretação, então podemos dizer que o choro bem-aventurado surge da aguda constatação da nossa fragilidade pessoal, da vulnerabilidade da nossa vida, da feiúra de nossas máscaras, da indecência da nossa vaidade e do ridículo das nossas “competências”, temporais e espirituais.
Quando digo “aguda constatação”, refiro-me a uma insuportável intensidade dessa percepção. Certamente, só tornada possível pela revelação do Espírito. Normalmente, encontrada em momentos verdadeiros de oração. O véu se retira de nossos olhos e somos “atropelados” pelo que o espelho nos mostra. O que nos resta fazer, diante dessa visão de nós mesmos, é chorar.
Sabe por que os bebês choram muito? Por que não têm recursos. Não sabem sair, por si mesmos, das situações de desconforto ou dor. São vulneráveis e dependentes. Quando crescemos, aprendemos a nos virar sozinhos. E não precisamos mais de ajuda; aprendemos a não nos colocar em situações desesperadoras. E passamos a ter vergonha de chorar, pois as lágrimas passam a denunciar nossa fraqueza. São constrangedora confissão de incompetência.
Mas quando o Espírito nos conduz à consciência da verdade sobre nós mesmos, rendemo-nos; vemos nossas forças reduzirem-se às de um bebê. E choramos. Lágrimas quentes, frágeis, dependentes, suplicantes, crédulas, esperançosas. Lágrimas que pedem misericórdia. Lágrimas libertadoras. Nesse momento sagrado, laços se rompem dentro de nós e percebemos que, por um instante, já não somos escravos das aparências, “auto-estimas” e vaidades que nos aprisionavam. Somos livres para derramar todo o nosso coração em rendição e súplica. Bem-aventurados os que choram assim, pois hão de ser consolados.
Você conhece um personagem bíblico que chorava muito? Lembro-me de um que, apesar de grandes defeitos pessoais, que o levaram a grandes pecados, tinha o coração afinado com o de Deus. Em que poderia consistir tal sintonia? Ao ponto de se dizer que era "um homem segundo o coração de Deus”? Acredito que o segredo de Davi era o dom da contrição. Ele oscilava entre o tomar as rédeas da vida nas mãos (com lamentáveis conseqüências) e entregá-las, inteiramente, a Deus, com grande choro. Veja como ele se confortava com a confiança de que Deus não o abandonaria: “Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito não o desprezarás, ó Deus” (Sl 51:17).
Acredito que o consolo prometido por Jesus se destina ao choro da contrição: lágrimas provenientes de nossa falência, que faz buscar misericórdia e perdão, como o ar para os pulmões.
Os que choram assim serão consolados. Porque quem vive de seus próprios recursos espirituais não precisa do vexame e da humilhação da contrição. Mas esse mesmo vive à míngua de Deus. Quem consegue se fazer sozinho não precisa de ajuda. Muito menos de consolo.
Ao homem autônomo, solitário, narcisista, melancólico e resolvido do Século XXI, a voz de Jesus convida assim: Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.