sábado, 28 de agosto de 2010

A RESPEITO DA ÉTICA

Deixa de ser bobo, todo mundo faz. Esta é a frase mais usada para justificar o comportamento ilícito. Dentro dela estão embutidas práticas como a do médico que solicita um “por fora” argumentando que a remuneração do plano de saúde não é satisfatória; do empresário que molha a mão do pessoal que libera carga na alfândega; do pai de família que trabalha sem carteira assinada e do empregador que contrata o pai de família; do vendedor que dá uma comissão ao comprador para fechar negócio; do comerciante que compra nota fria para tributar menos ou sonegar; do consumidor que compra produto pirateado porque senão não poderia comprar; da sacoleira que trabalha no mercado informal para sustentar quatro filhos; e assim por diante, numa lista de comportamentos interminável assimilados como “naturais” neste mercado selvagem.
O cenário comporta múltiplas abordagens, e qualquer um que acredite estar diante de um problema de fácil solução certamente está fazendo uma análise simplista. Por exemplo, basta lembrar que o comportamento ilícito tem suas variáveis. Pelo menos duas, para ser simples sem ser superficial. A primeira diz respeito aos agentes. A segunda, aos eventos. Quanto aos agentes, os não éticos podem ser divididos entre os que fazem por estilo de vida, como os criminosos que montam uma estrutura de mercado e governo paralelos; e os que fazem por necessidade, como os que se colocam à beira da calçada e estão mais para sobreviventes do que para imorais. Já em relação aos eventos, devemos admitir que há distinção entre a transgressão como recurso emergencial, como a do camarada que aceita ser achacado pela autoridade que criou a dificuldade para vender a facilidade, e a transgressão como meio de vida, como a da autoridade que vive criando dificuldade. De minha parte, embora coloque tudo no pacote do fracasso ético, aceito dialogar com quem acredita que “uma coisa é coisa e outra coisa é outra coisa”.

Ética, moral e lei

Na busca de caminhos para o comportamento ético, podemos entrar pela porta das definições elementares. Devemos, por exemplo, fazer distinção entre ética e moral. O Frei Leonardo Boff ilumina nossa caminhada dizendo que “Ethos, ética, na língua grega designa a morada humana. O ser humano separa uma parte do mundo para, moldando-a ao seu jeito, construir um abrigo protetor e permanente. A ética, como morada humana, não é algo pronto e construído de uma só vez. O ser humano está sempre tornando habitável a casa que construiu para si. Ético significa, portanto, tudo aquilo que ajuda a tornar melhor o ambiente para que seja uma moradia saudável: materialmente sustentável, psicologicamente integrada e espiritualmente fecunda. A ética não se confunde com a moral. A moral é a regulação dos valores e comportamentos considerados legítimos por uma determinada sociedade, um povo, uma religião, uma certa tradição cultural etc. Há morais específicas, também, em grupos sociais mais restritos: uma instituição, um partido político... Há, portanto, muitas e diversas morais. Isto significa dizer que uma moral é um fenômeno social particular, que não tem compromisso com a universalidade, isto é, com o que é válido e de direito para todos os homens. Mas, então, todas e quaisquer normas morais são legítimas? Não deveria existir alguma forma de julgamento da validade das morais? Existe, e essa forma é o que chamamos de ética”.
Moral identifica um modo de agir humano, regido por normas e valores, por hábitos e costumes. A moral se relaciona com o comportamento prático do homem. Ética é uma reflexão teórica que analisa, critica ou legitima os fundamentos e princípios que regem um determinado sistema moral.
. Ética é princípio; moral são aspectos de condutas específicas;
. Ética é permanente; moral é temporal;
. Ética é universal; moral é cultural;
. Ética é teoria; moral é prática.
As leis estão no campo da moral, e devem ser avaliadas a partir de seus pressupostos éticos. Para que você entenda melhor, a afirmação de que todos os seres humanos são iguais perante Deus é uma afirmação ética, um princípio universal, e a lei que considera crime a segregação racial é uma aplicação moral, bem como a lei que condena a escravidão.
A ética deve ser, portanto, aplicada moralmente através dos códigos legais. As leis são instrumentos de regulamentação social. De acordo com Clive Staples Lewis, teólogo inglês, as leis são necessárias, pelo menos por três razões. Em primeiro lugar, para promover uma arrumação e harmonização no interior de cada ser humano em particular. Depois, para promover a justiça e a harmonia entre os seres humanos. Finalmente, com o objetivo geral da vida humana como um todo, com o fim para o qual o homem foi criado, que se consolida na possibilidade de um mundo justo e fraterno habitado por seres humanos plenamente realizados, o que muitos de nós chamaríamos céu ou paraíso.
Em termos práticos, Lewis está dizendo que “a lei protege a pessoa”, e por isso o Ministério da Saúde obriga advertências nos produtos tóxicos como fumo e álcool. Além disso, “a lei promove a justiça”, o que justifica a tributação como instrumento de distribuição de renda. Por fim, a lei viabiliza a utopia, que se expressa, por exemplo, na Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Cristianismo: ética, moral e consciência

É certo que o Cristianismo possui suas premissas éticas (grade de valores) que determinam sua moral (leis, mandamentos e costumes). Mas também é certo que a proposta do Cristianismo não é um chamado para que se viva em obediência a leis e mandamentos morais. O Cristianismo convida a uma nova consciência, isto é, desafia cada ser humano a interpretar a lei (moral) à luz da ética.
É fácil de explicar as razões deste desafio à consciência. Tenho basicamente quatro justificativas. Em primeiro lugar, todos sabemos que nem tudo o que é legal é ético, isto é, nem sempre a observância da lei é o melhor caminho para a realização do ideal ético e promoção da justiça. O aborto, a eutanásia e a pena de morte podem se tornar legais, mas ainda assim continuarão a suscitar discussões éticas.
A segunda justificativa da valorização da consciência acima da lei, é que a lei não é suficientemente abrangente. Uma vez que o ser humano é um universo infinito, também as relações entre seres humanos será um universo infinito. A lei nunca será abrangente o suficiente para promover a justiça em todos os espectros possíveis da complexidade das relações humanas. Cada sociedade vai desenvolver seus códigos morais em razão da necessidade da sobrevivência e da convivência. O Dr. Drauzio Varella discute bem essa questão em seu livro Carandiru, que retrata o dia-a-dia daquele que foi o maior complexo penitenciário da América Latina.
Um terceiro argumento está baseado no fato de que a lei se flexibiliza diante da ética. A lei, que em tese é rígida em sua norma, se submete à ética, que é dinâmica em sua hierarquia de valores. Por esta razão é que o sujeito que rouba para dar de comer aos filhos pode ser absolvido pelo tribunal: a vida é um valor maior que o direito à propriedade. Acredito que foi isso o que Jesus tentou ensinar ao afirmar que “o sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado”, isto é, a lei deve estar a favor da vida.
Finalmente, a lei é reguladora dos fatos sociais, e nesse caso, não havendo o fato que a justifica, a lei perde seu sentido. Quem ficaria parado de madrugada numa rua deserta só porque o sinal está fechado? O policial que lavrasse uma multa por avanço de sinal às duas da madrugada numa rua deserta estaria cumprindo a lei? Novamente voltamos ao paradoxo entre o sábado e o homem.
Fica claro, portanto, que somente o tolo obedece sempre, e somente o sábio é capaz de desobedecer a lei sem transgredir a ética. Poucos são os capazes de andar na ilegalidade sem cair na imoralidade. E isso faz do Direito uma ciência extraordinária e bela, pois visa a justiça, acima da lei. Está explicado porque o Cristianismo, em vez de apresentar um novo código moral, faz um convite desafiador à nova consciência.

Princípios éticos à luz do Cristianismo

Em relação à questão da vida profissional e das relações no mercado, posso dar exemplos de princípios éticos derivados dos valores cristãos. falando de resultados, o Cristianismo, por exemplo, é diferente do Pragmatismo. O Pragmatismo diz que o que dá certo é certo, enquanto o Cristianismo diz que o que é certo vale mais do que o que dá certo. Isto é, nem tudo que dá certo é certo. Algumas coisas, inclusive, nós fazemos sabendo que resultarão em prejuízo para nós – darão “errado” – mas preservarão nossa dignidade e honra, isto é, a nossos valores éticos. O caráter sempre vale mais do que os resultados.
Falando de gente, as pessoas sempre valem mais do que os papéis que desempenham: o faxineiro é tão digno quanto o presidente da corporação. Os relacionamentos sempre valem mais do que os negócios. A fraternidade está acima do lucro. A solidariedade está acima das posses.
Falando de dinheiro, a justiça vale mais do que a prosperidade, e o bem comum vale mais do que a riqueza pessoal. O bem estar individual não pode existir às custas da indiferença social. Lembre da figura do vampiro que suga o sangue de todo mundo até sobrar apenas o sangue dele: o genocídio é uma espécie de suicídio. Riqueza sustentável é riqueza compartilhada. Dinheiro vivo é dinheiro circulando, repartido, distribuído.

Caminhos pessoais

Alguém já disse que a melhor maneira de mudar o mundo é fazer um circulo ao redor de si mesmo e começar as mudanças a partir do lado de dentro do círculo. Os alemães dizem que devemos pensar globalmente e agir localmente, o que deve ter dado origem ao seu provérbio que diz que “em pequenas vilas, pequenas pessoas estão fazendo pequenas coisas que estão mudando o mundo”. Nesse caso, mesmo sabendo que esta questão não será equacionada sem a mobilização social e as transformações estruturais promovidas pela ação política, sugiro alguns compromissos pessoais-individuais.
#1 Jamais negocie os valores arraigados em sua consciência. Caráter não tem preço. É melhor dormir mal porque falta cama, do que dormir mal porque a consciência pesa. As pessoas que me procuram à guisa de dilemas éticos geralmente estão em defesa de seu padrão de vida, em vez de em luta pela sobrevivência. O problema de muita gente não é a impossibilidade de fazer o que é certo, mas a dificuldade ou recusa em assumir o ônus do que é certo. Muito raramente me deparo com pessoas que não sabem o que fazer. Geralmente encontro pessoas que não têm coragem de fazer o que sabem que devem fazer.
. É melhor ter pouco com o temor de Deus do que grande riqueza com inquietação. (Provérbios 15.16)
. É melhor ter pouco com retidão do que muito com injustiça. (Provérbios 16 .8)
. Melhor é um pedaço de pão seco com paz e tranqüilidade do que uma casa onde há banquetes, e muitas brigas. (Provérbios 17.1)
. Melhor é ser pobre do que mentiroso. (Provérbios 19.22)
. Melhor é o pobre íntegro em sua conduta do que o rico perverso em seus caminhos. (Provérbios 28.6)
#2 Faça distinção entre a prática eventual do ilícito e o estilo de vida ilícito. A Bíblia também recomenda: “Não seja excessivamente justo nem demasiadamente sábio; por que destruir-se a si mesmo? Não seja demasiadamente ímpio e não seja tolo; por que morrer antes do tempo? É bom reter uma coisa e não abrir mão da outra, pois quem teme a Deus evitará ambos os extremos” (Eclesiastes 7.16-18). Não encaro isso como “licença para ser imoral de vez em quando”, mas como recomendação da sabedoria para julgar e discernir a partir de uma hierarquia de valores.
#3 Pratique a “ética temporal ascendente”. Este é um conceito muito interessante desenvolvido por Lourenço Stelio Rega, em seu livro Dando um jeito no jeitinho (Editora Mundo Cristão). Este princípio foi utilizado, por exemplo, pelo apóstolo Paulo, que não se posicionou claramente contra a poligamia, mas exigiu dos líderes cristãos que “fossem maridos de uma só mulher”. Naquele contexto social, a transição brusca da poligamia para a monogamia implicaria a condenação de muitas mulheres, que não possuíam quaisquer direitos legais, à miséria e à prostituição. Por isso, mesmo sendo a monogamia o ideal moral cristão, o apóstolo soube conviver com a poligamia o tempo necessário para promover a transição, de modo a evitar maiores complicações sociais.
#4 Participe dos processos de transformações sociais. A mobilização da população é o instrumento de transformação social em um estado de direito. O regime democrático implica mais do que o voto, na verdade, exige que o voto seja precedido pelo esclarecimento e sucedido pelo acompanhamento dos eleitos. A militância, geralmente associada à política partidária, deve ser encarada em seu espectro mais amplo, que inclui a sociedade civil em todas as suas dimensões de representatividade. Cumpra seu papel como cidadão. Comprometa-se com uma causa. Assuma uma postura. Associe-se com pessoas e organizações que trabalham para o bem comum. Incentive a solidariedade. Seja um doador. Faça trabalho voluntário. Divulgue boas notícias. Denuncie. Assine listas. Candidate-se. Proteste. Faça campanha. Não se omita. Faça alguma coisa. E se for o caso, chame sua turma e levante uma bandeira.

Conclusão

Geralmente se ouve que as pessoas se perguntam se vale à pena ser honesto. A profecia de Rui Barbosa se cumpriu: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.” Mas receio que a questão seja um pouco pior: as pessoas já não se perguntam se a honestidade vale a pena, mas sim se a honestidade é possível.
Mas não perdi a fé. Não perdi a esperança. Não deixei de acreditar na dignidade do ser humano. Aprendi que o mundo está dividido em três grupos de pessoas. Os otimistas ingênuos. Os pessimistas frustrados. E os realistas engajados. Espero somar entre os que estão de mãos arregaçadas.

Ed Rene Kivitz

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domingo, 22 de agosto de 2010

VENHA O TEU REINO

A segunda súplica de Jesus é pela manifestação do seu reino: "Pai nosso que estás nos céus (…), venha a nós o teu reino (…), assim na terra como no céu". É a oração mais radical que um cristão pode fazer. O reino de Deus é o governo de Deus entre nós. Suplicar dizendo: "venha o teu reino" é invocar o Rei e seu governo sobre nós. Os cristãos do primeiro século entenderam a oração de Jesus e, ao suplicarem "Pai nosso, venha a nós o teu reino", todo o comportamento deles, não só pessoal, mas comunitário, foi transformado a partir desta nova realidade. Foram tomados pelo desejo de conhecer melhor a Deus e sua palavra, de viver em comunhão com os irmãos, abrindo suas casas para receber a nova comunidade do reino. Tinham profundo e sincero temor de Deus (submissão) e o poder do novo Rei se manifestava entre eles. Viviam de forma solidária suprindo as necessidades uns dos outros. Oravam, jejuavam, adoravam e, enquanto estas coisas aconteciam, o Senhor lhes acrescentava tudo o que necessitavam no dia a dia, inclusive novos convertidos (At 2:42-47). Era uma igreja que orava venha a nós o teu reino.
Justino Mártir (100-165) dizia que: "Nós, que antigamente nos alegrávamos nas relações sexuais fora do casamento, agora nos mantemos totalmente castos; usávamos a magia, mas agora nos dedicamos ao bem e ao Deus eterno; valorizávamos acima de qualquer coisa a aquisição de riquezas e bens, mas agora trazemos o que temos para um estoque comum e o repartimos com todos os necessitados; odiávamos e destruíamos uns aos outros, não convivíamos com pessoas de outras raças por causa de seus costumes diferentes, mas desde que Cristo veio, temos um relacionamento ótimo, oramos por nossos inimigos e nos esforçamos para convencer os que nos odeiam injustamente de que devem viver de acordo com os bons preceitos de Cristo, para que participem conosco da mesma esperança feliz pela recompensa do Deus que governa tudo". É um testemunho de uma igreja que também orava venha a nós o teu reino.
Nos anos 50 e 60 o mundo foi impactado pelo testemunho de um pastor batista, negro, que liderou uma das maiores revoluções pacifistas contra o racismo. Depois de receber várias ameaças de morte, numa madrugada de sábado para domingo, o Rev. Martin Luther King foi despertado por um telefonema que o deixou assustado. Levantou, foi para a cozinha de sua casa e depois de tomar um café preocupado com a segurança de sua esposa e filhos, orou assim: "Senhor, tenho estado de pé por aquilo que creio ser justo. As pessoas estão olhando para mim e pela minha liderança, se eu permanecer diante deles sem força e coragem, eles fracassarão. Estou no fim das minhas forças. Não tenho mais energia. Não tenho mais nada. Cheguei num ponto onde não consigo mais seguir sozinho". Mais tarde ele compartilhou com sua esposa: "Naquele momento experimentei a presença de Deus como nunca havia experimentado. Parecia que ouvia sua voz me dizendo: permaneça de pé pela justiça, permaneça de pé pela verdade e eu estarei ao seu lado sempre." Quando ele se levantou da mesa, estava tomado por uma nova coragem e confiança e pronto para encarar o que tinha pela frente. Ele também orou venha a nós o teu reino.
Para os judeus, a história é linear. Ela tem começo, meio e fim. É uma história que caminha para um clímax que é a intervenção de Deus na história. Quando Jesus prega o seu primeiro sermão numa sinagoga de Nazaré, ele diz: "O Espírito do Senhor Deus está sobre mim pelo que me ungiu para pregar boas novas aos quebrantados (…)". E termina afirmando: "hoje se cumpriu esta escritura". Deus interveio na história. O reino chegou. A nova ordem foi estabelecida.
Nesta oração, estamos clamando pela manifestação deste reino já presente entre nós. Não oramos dizendo leva-nos para o teu reino, mas, sim, venha o teu reino. Não somos nós que trazemos o reino, como não somos nós que tornamos o nome de Deus santo. Só Deus pode tornar seu nome santo, só Deus pode manifestar entre nós o seu reino. Esta súplica expressa nosso desejo de ver o reino de Deus presente entre nós. Vivemos entre o reino já manifestado em Cristo e o reino que será plenamente consumado quando Ele voltar. Naquele dia todas as coisas serão endireitadas, nossos olhos plenamente abertos, nossa mente totalmente transformada, nossos afetos completamente redimidos, nossa comunhão com Deus inteiramente restaurada.
Jesus inaugurou o reino. O reino de Deus é o jeito que Deus deseja que seu povo viva. É o governo de Deus sobre o seu povo. É a restauração da nova humanidade. Todo o Sermão do Monte é um retrato disto. Quando suplicamos: "venha o teu reino (…), assim na terra como no céu", oramos assim:
Pai, antecipa estas coisas. Manifesta o teu governo. Quebra todas as resistências da minha alma. Torna-me mais obediente aos teus mandamentos. Enche-me de tua compaixão. Manifeste a tua justiça entrenós. Pai, torna-me mais humilde, manso e puro para que eu viva do jeito que o Senhor Jesus, teu santo Filho, me ensinou a viver. Pai, cura a minha cegueira para que eu contemple a realidade com os mesmos olhos que Jesus, meu Rei e Senhor, contemplam.
Pai, transforma o meu medo em coragem para que eu ame a justiça e a busque como o Senhor espera que eu faça. Pai, faça de mim um instrumento de tua paz na minha família, no meu ambiente de trabalho, entre os meus vizinhos. Pai, usa-me para levantar os abatidos, socorrer os necessitados, restaurar os que tem o coração ferido, abrir os olhos dos cegos e ajudar os paralíticos a andarem.
Pai, não me deixe andar ansioso em relação ao futuro, comida, roupa, moradia e outras coisas que consomem minhas forças e energias, ajuda-me a crer que cuidas de mim e me enche de paixão pelo teu reino, pelo teu evangelho e tua justiça, certo de que as outras coisas me serão dadas.
Pai, reverte a ação do pecado. Manifeste entre nós os teus mandamentos justos e bons. Usa-nos como ministros da reconciliação. Restaure a humanidade corrompida e reine soberanamente em toda a tua criação. É uma oração que tem implicações sobre nossa conversão, nossa identidade. É uma oração que somente aqueles que entram no reino e participam dele o fazem. Somos chamados por Cristo a entrar e participar do reino de Deus. Quem faz parte do reino? O pobre e humilde de espírito, aquele que faz a vontade do Pai, aqueles cuja justiça excede a dos escribas e fariseus, aquele que se faz como uma criança.
É assim que temos orado? Quando apresentamos nossos pedidos a Deus, levamos em conta a honra do seu nome e a presença do seu reino em primeiro lugar? Quando oramos pelo emprego, salário, saúde, família, nação, orientação e direção, é para que o reino de Deus se manifeste em todas estas áreas? A oração que Jesus ensinou começa assim: "Pai nosso, santificado seja o teu nome. Venha a nós o teu reino".

Pr. Ricardo Barbosa

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

JESUS TINHA OS PIORES AMIGOS DO MUNDO

Todo homem se sente sozinho ao menos uma vez na vida. Na maioria das vezes por que percebe que mesmo estando cercado de pessoas, dificilmente conta com o apoio incondicional da amizade alheia. Então as pessoas entram em crises. E se esquecem que a figura de Cristo não foi nem um pouco agraciada com amigos excepcionais.
O problema da amizade no mundo contemporâneo é a busca da aceitação. Queremos quem nos aceite do jeito que somos. Quem compreenda o que não faz sentido. Quem veja o que só pode ser discernido mediante a fé. E se não encontrarmos amizade neste nível, desanimamos, choramos, lamentamos.
Aí você olha para os “amigos” de Jesus e se surpreende. Ele era cercado pelos homens mais incompetentes, inseguros e interesseiros da face da Terra. E no meio de seus amigos havia também um traidor. E não há coisa mais desagradável do que conviver com quem irá certamente te apunhalar pelas costas num futuro próximo.
Mas Jesus não viveu estas crises. Ele sabia quem era e qual sua vocação. Ele entendia que o relacionamento com as demais pessoas ao seu redor não podia ser estabelecido apenas segundo a conveniência. E ele tomou a única decisão lícita para quem quer viver o evangelho integralmente: dar de si mesmo sem reservas.
O problema das pessoas com o convívio em comunidade se dá principalmente pela dificuldade que temos em prestar contas de nossa vida. E isto acontece por que não temos amigos. Temos “conhecidos”. Mas não há cumplicidade nos relacionamentos. É como se as pessoas não fossem boas o suficiente para que nós possamos nos expor. E realmente elas não são. Nem elas, nem nós mesmos.
A vida em comunidade COM COMPROMISSO é parte das disciplinas espirituais indispensáveis para quem quer fazer parte da Igreja de Cristo. Não somos Igreja apenas por sermos dois ou mais. Somos Igreja quando nos submetemos voluntariamente uns aos outros e aceitamos a repreensão do outro. Somos Igreja quando caminhamos mais devagar por que o propósito do REINO é que o indivíduo renuncie a seus direitos em favor dos outros. Morremos para que a COMUNIDADE viva.
Você precisa de amigos? Reflita bem sobre isto. Um homem solitário geralmente é aquele que não se tornou bom o suficiente para se relacionar com outros. E todas as outras desculpas são apenas desculpas. E elas não serão aceitas no dia do Juízo.

Ariovaldo Ramos

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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

UM REFÚGIO CHAMADO DEUS


Guarda-me, ó Deus, porque em ti confio. A minha alma disse ao SENHOR: Tu és o meu Senhor, a minha bondade não chega à tua presença. Mas aos santos que estão na terra, e aos ilustres em quem está todo o meu prazer. As dores se multiplicarão àqueles que fazem oferendas a outro deus; eu não oferecerei as suas libações de sangue, nem tomarei os seus nomes nos meus lábios. O SENHOR é a porção da minha herança e do meu cálice; tu sustentas a minha sorte. As linhas caem-me em lugares deliciosos: sim, coube-me uma formosa herança. Louvarei ao SENHOR que me aconselhou; até os meus rins me ensinam de noite. Tenho posto o SENHOR continuamente diante de mim; por isso que ele está à minha mão direita, nunca vacilarei. - Salmo 16:1-9
Em que sentido Deus é refúgio? Do que ele nos esconde?
Podemos usar a declaração do salmista de que Deus é seu refúgio como uma chave hermenêutica para a interpretação do salmo por inteiro. Quando me escondo em Deus, me protejo dos males que assolam a alma. Quando nos apresentamos diante de Deus em oração é como se o ‘mundo, o pecado e o diabo’ ficassem ‘do lado de fora’.
É interessante notar que Davi não pede que Deus o esconda em algum lugar ou que simplesmente o guarde ou o livre de algum mal. Ele pede que Deus o guarde Nele mesmo. “Deixe-me esconder em ti”.
O “Deus Refúgio” de Davi é tratado por muitos como um “Deus Escape”, a quem apelo apenas na hora do arrocho ou pior: como um Deus “Flanelinha” (que é aquele sujeito que ‘vigia’ os carros nos estacionamentos públicos). Para estes, Deus é aquele a quem peço que vigie meus bens, cuide de meus imóveis, me livre do ladrão, me salve do caloteiro. Para Davi, Deus não era apenas QUEM o guardava, mas o próprio LUGAR DE SEGURANÇA no qual ele era guardado.
Deus é refúgio contra o materialismo. O salmista diz: “Além de ti, não tenho outro bem”. Ora, é claro que Davi possuía bens materiais. Entretanto, quem tem Deus como refúgio, abriga-se de toda usura, cobiça e ânsia de adquirir coisas, pois tem em Deus seu maior patrimônio (v.2); seu sustento e sua herança (v.5).
Deus é refúgio contra o azar – Sorte e azar são vistos normalmente como frutos do acaso, da coincidência, do imponderável. Mas aquele que crê em Deus como refúgio tem uma sorte que não é fruto da aleatoriedade ou do acaso; mas uma sorte com fundamento – ‘Tu és o sustentáculo, o arrimo da minha sorte’ (v.5). Seu futuro é garantido.
Deus é refúgio contra a escassez - “Tu, Senhor, és a porção da minha herança”. Notável o fato de Deus como “porção” uma vez que Deus é a totalidade, é tudo. Mas na perspectiva do salmista, há porções diversas nesse mundo a serem escolhidas. A que lhe cabia era o “Senhor”. Quem escolhe uma ‘porção qualquer’ sempre fica de olho na porção do outro. Quem escolhe o Senhor como “sua porção”, de nada tem falta, de nada se ressente.
Deus é refúgio contra a solidão – E isso se dá de duas formas. Por um lado, o próprio Senhor é companhia – “Estou sempre diante da presença do Senhor. Ele está por perto e nada pode me abalar” (Good News Bible). E por outro, Deus provê a comunhão com os “fiéis da terra” - “Quão excelentes são as pessoas de fé em Deus! Meu maior prazer é estar com elas” – versão Good News Bible.
Deus é refúgio contra a ignorância – Quando não sabemos o que fazer podemos nos esconder em Deus, pois diz Davi: “Bendigo o Senhor que me aconselha e até de noite meu coração me ensina” (v.7). Quem tem Deus como refúgio, aprende até dormindo. Tem no sono, não um tormento, não um descanso do corpo apenas, mas um professor. Acorda com novas perspectivas, novos planos, nova disposição. E cientistas já comprovaram que o cérebro ‘armazena’ os conhecimentos adquiridos ao longo do dia enquanto dormimos.
Humberto Gessinger (Engenheiros do Hawaii) já dizia: "Você precisa de alguém que te dê segurança, senão você dança, senão você se cansa...". Todos nós buscamos um esconderijo em algum ou em vários momentos da vida. Quando nos apresentamos diante de Deus, dizendo como Davi: "Tu és o meu Senhor", verdadeiramente encontramos muito mais que um esconderijo passageiro. Encontramos uma fortaleza de proteção, orientação, companhia e alegria incomparável.

Pr. Alessandro Mendonça
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