sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

TORNAR-SE CRIANÇA


Jesus disse que ninguém pode entrar no reino dos céus se não se tornar como uma criança. A imagem que surge na mente dos adultos, quando ouvem esta afirmação de Jesus, é a da pureza infantil, da inocência, da dependência -- virtudes que poucos adultos desejam. Assim, a conclusão lógica a que qualquer um chegaria é que poucos deles entrarão no reino dos céus. A infância, para muitos adultos, é apenas uma lembrança -- boa para uns, ruim para outros. É raro encontrar um adulto que demonstre interesse, por menor que seja, em ser como uma criança. Os poucos que o demonstram, o fazem por razões românticas, não reais. O interesse do adulto pela inocência ou pureza quase sempre é confuso e infantilizado. É também raro encontrar um adulto que, de fato, queira ser dependente. Pode até querer se convencer de suas limitações, mas dificilmente abrirá mão do controle de seu destino. 
Ao tomar uma criança como exemplo daqueles que entrarão no reino dos céus, Jesus não tem em mente as imaginações românticas que nós, adultos, temos da infância. Mesmo porque o reino dos céus não será herdado por adultos infantilizados. Maturidade e crescimento são evidências esperadas na vida daqueles que seguem a Cristo. 
Ao tomar uma criança como exemplo, Jesus nos ajuda a corrigir uma compreensão equivocada que temos da virtude da humildade. Os discípulos discutiam entre si qual deles seria o maior no reino dos céus -- conversa típica de adulto. No meio desta discussão, Jesus toma uma criança e diz que quem se humilhar como ela -- este, sim -- será o maior no reino dos céus.
Tornar-se criança não é transformar-se em um adulto infantilizado; é aprender o significado da humildade, sem a qual ninguém entrará no reino dos céus. Tornar-se como criança é reconhecer a condição de filho e de filha. Ser humilde como uma criança é reconhecer-se como criatura. A natureza humana frequentemente inverte esta relação. O prazer mais natural de uma criança é agradar seus pais. Humildade é agradar aquele (ou aqueles) a quem amamos. Não se trata de uma virtude que se conquista com atitudes modestas ou com a negação de elogios. Ela se desenvolve na medida em que cresce em nós a consciência de quem somos diante do Criador.
É curioso notar como a fronteira entre a humildade e o orgulho é estreita. Ser elogiado por ter feito algo bom nunca foi um pecado. É legítimo o prazer que sentimos ao agradar alguém a quem amamos. O prazer maior de qualquer cristão será ouvir a voz do Salvador dizer: “Muito bem, servo bom e fiel…” -- um elogio que nos encherá de prazer por termos agradado aquele a quem mais amamos. Porém, o elogio pode se transformar em uma fonte de prazer em si mesmo. Neste caso, não se procura agradar a pessoa amada, mas sentir-se valorizado e importante. O polo é invertido: é a criatura assumindo o lugar do Criador. É neste ponto que o adulto deixa de ser criança e torna-se infantil.
Tornar-se criança significa reconhecer a condição de criatura e saber que nada nos alegra mais do que agradar o Criador. É por isso que Jesus nos ensina a entrar no quarto, fechar a porta, para aprender a orar. Orar em público, faz da oração facilmente um fim. Ouvir elogios dos outros nos faz sentir que somos “bons na oração”, enquanto que orar secretamente no quarto nos leva a experimentar a recompensa que vem de Deus. Aprendemos a orar por causa dele e não por nossa causa. Desejamos agradá-lo e não a nós.
Somente os humildes entrarão no reino dos céus. A verdadeira fé não é fazer grandes coisas em nome de Deus, mas viver de forma a agradá-lo. Não é isto que os pais esperam de uma criança? Tornar-se criança é viver liberto da tirania da vaidade, da busca insana pela autorrealização, da necessidade infantil de ser admirado e reconhecido. Tornar-se criança é experimentar a alegria de viver para aquele que nos criou e agradá-lo.
Quer louvar-te um ser humano, parte minúscula de tua criação. És tu mesmo que lhe dás o impulso para fazê-lo, assim ele se sente feliz ao louvar-te. Pois para ti nos criaste, e inquieto é nosso coração, até que chegue a descansar em ti. (Agostinho, “Confissões”)

Pr. Ricardo Barbosa de Sousa 

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

FELICIDADE


O maior desejo de todo homem, cristão ou não, é ser feliz.
No dicionário, a felicidade é um conjunto de emoções ou sentimentos que vai desde o contentamento até a alegria intensa ou júbilo. Ou ainda, a sensação de bem-estar ou paz interna. O oposto da felicidade seria a tristeza.
Além de o sentimento de felicidade ser muito emocional e vulnerável, podendo a pessoa sentir-se feliz num momento e no outro não, a percepcão de como alcançá-lo mudou nos últimos tempos. Até alguns anos atrás, entendia-se que a felicidade era atingida por alguém quando os seus deveres eram cumpridos, como educar os filhos, sustentar a familia, formar-se numa faculdade, etc. Hoje, ela está relacionada com a realização de desejos pessoais.
O conceito bíblico de felicidade não é o mesmo dos ímpios. Ser feliz, para o mundo, é adquirir muitos bens, dinheiro, casar, fazer viagens,  ter saúde perfeita e tudo isso é muito bom. Mas, segundo as Escrituras, ser feliz não é desfrutar de algumas coisas passageiras e imediatas; é um estado permanente que independe das circunstâncias, sendo alcançado pela decisão de temer, confiar e viver conforme os preceitos de Deus. 
Na Palavra de Deus, a felicidade é uma bênção do Senhor em conseqüência da escolha de vida conforme os padrões bíblicos. Nela, há muitos versículos que falam sobre o homem feliz ou bem-aventurado. Um deles afirma: “Bem-aventurado o homem que teme ao SENHOR e se compraz nos seus mandamentos.” (Sl 112.1). Ainda na Bíblia, encontram-se outras características daquele que é feliz. Ele é generoso, tem fé, serve ao Senhor e aos irmãos, suporta as adversidades e tentações. Enfim, somente é feliz o homem que permitiu a Deus reinar em seu coração.
Se alguém deseja encontrar a verdadeira felicidadeira precisa buscá-la nos moldes do Senhor. A forma que o mundo tenta alcancá-la  é a de quem corre atrás do vento,  não chega a lugar algum e jamais se satisfaz, pois não tem como base o que é essencial e verdadeiro. Não usa critérios divinos, mas humanos.
O homem pode buscar a felicidade de todas as formas, mas apenas conseguirá quando a fonte de sua busca for o próprio Deus.

Rosane Itaborai Moreira