segunda-feira, 26 de março de 2012

O MELHOR DE DEUS AINDA ESTÁ POR VIR?

A frase virou mesmo um chavão e está constantemente na boca de vários irmãos. Diante dos problemas e adversidades, a palavra de “consolo” é: “Não se preocupe, o melhor de Deus para a sua vida está por vir”. O que se quer dizer com isso é que por mais que a vida tenha lá suas adversidades e problemas, aquele que sofre pode estar descansado, pois haverá um dia em que as lutas cessarão, não haverá mais pranto e nem dor.
Conquanto seja isso verdadeiro e prometido na Escritura, que afirma que o Senhor enxugará dos olhos toda lágrima (Ap 21.4), é preciso analisar o que de fato se deseja ao dizer que “o melhor de Deus está por vir”.
Se com essa frase os crentes estivessem almejando estar de uma vez por todas na presença física do Senhor Jesus, ela ganharia um belo sentido, porém, ao observar que ela é dita geralmente em momentos de dificuldades, fica evidente que “o melhor de Deus” que é esperado é simplesmente a ausência das tribulações. Nesse caso, perde-se a perspectiva de que o melhor de Deus já veio quando ele enviou seu Filho ao mundo (Jo 3.16) em semelhança de homens (Fp 2.7) para justifica-los pela fé e conceder a eles paz com Deus (Rm 5.1).
Quando o Senhor Jesus afirmou a seus discípulos: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo” (Jo 14.27), ele falava sobre a reconciliação com Deus, não sobre a ausência de problemas. Se assim não fosse, os discípulos não teriam ouvido dele que no mundo teriam aflições (Jo 16.33). A despeito disso ele ordena aos discípulos ter bom ânimo, o que demonstra que o consolo não estava em esperar a cessação das aflições, mas na certeza de que aquele que venceu o mundo estaria com eles todos os dias, inclusive em meio às dificuldades, até a consumação dos séculos (Mt 28.20).
Era a certeza de que Jesus era o melhor de Deus e, portanto, suficiente para a sua vida que levava Paulo a declarar: “Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.11-13). Sua alegria não dependia das circunstâncias, mas de estar na presença do Senhor Jesus. Por isso mesmo ele também podia dizer que viver para ele era Cristo, e morrer, lucro, pois sabia que estar com Cristo é incomparavelmente melhor (cf. Fp 1.21,23).
Saber que o melhor de Deus para nós, Cristo Jesus, já veio deve nos levar ao entendimento de que até as tribulações e aflições não fogem a seu controle, antes, são usadas pelo Senhor para nos tornar cada dia mais parecidos com o nosso Redentor. Isso nos leva também a colocar em prática as palavras de Tiago, que diz que devemos ter como motivo de muita alegria o passar por várias provações, entendendo que a finalidade da provação é produzir a esperança, que cumpre o seu papel ao nos tornar perfeitos, íntegros e em nada deficientes (Tg 1.2-4).
Como já foi afirmado, uma vida sem aflições, sem pranto e nem choro é prometida por Deus para aqueles que são de Jesus. Porém, querer estar com Jesus não por quem ele é, mas por aquilo que ele nos concede e concederá é uma atitude idólatra, que revela que amamos mais a bênção concedida do que aquele que nos abençoa.
O melhor de Deus já veio, Cristo Jesus, e se buscarmos nele alegria e satisfação viveremos também contentes, em toda e qualquer situação.

Milton Jr.
www.genizahvirtual.com

quinta-feira, 22 de março de 2012

CRISTIANISMO, SECULARISMO E CIDADANIA

A realidade do século 21 é que a democracia não é um valor ou uma prática universal, e a liberdade religiosa é uma exceção nos Estados teocráticos, confessionais ou ateus.
As restrições, discriminações, violências e migrações forçadas atingem milhões de cristãos sob a dominação do islamismo, do budismo, do bramanismo ou do comunismo. O Ocidente silencia diante das violações aos direitos humanos. Os interesses políticos e econômicos falam mais alto. A única ação política possível para os cristãos é a luta pela sobrevivência. O sonho de uma era de liberdade após a queda do Muro de Berlim ficou distante. O fato novo -- e inesperado -- tem sido o surgimento de uma nova onda de intolerância, discriminação e perseguição religiosa contra as expressões do monoteísmo de revelação (particularmente o cristianismo) no Ocidente pós-cristão, no mundo dito civilizado, no qual o cristianismo foi uma inegável variável histórica e cultural. Na Europa, o secularismo avançou rapidamente, como desdobramento do iluminismo e do racionalismo, e do vazio existencial trazido pelo liberalismo teológico, enquanto imigrantes não-cristãos e sem tradição democrática ocupavam o lugar dos nacionais que não nascem. Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia vão abjurando do seu passado cristão. O multiculturalismo, o politicamente correto, a cultura da morte (aborto, não-procriação, homossexualismo, eutanásia), a agenda GLSTB lastreiam uma pós-modernidade que, negadora de qualquer verdade, afirma o individualismo, o subjetivismo e o relativismo. O único absoluto é o relativo, na licitude da “diversidade” ilimitada. Sob a falsa retórica da defesa de um desejável laicismo, minorias organizadas no aparelho do Estado, na academia e na mídia -- de fato partidária e leninista -- promovem essa ideologia nos aparelhos ideológicos (imprensa, entretenimento, educação) e coercitivos (legislação, judiciário, polícia). No Reino Unido, alguém recentemente afirmou: “Trocamos uma cultura religiosa de tolerância por uma cultura não-religiosa de intolerância”. Essa ideologia impõe o Estado contra a nação, e a lei contra a cultura. O argumento religioso é desqualificado -- vedada sua expressão no espaço público ou sua influência na formulação das políticas públicas -- empurrado “sob varas” para a irrelevância social das subjetividades ou para o espaço privado dos lares e dos templos. Afirmar os valores cristãos vai se tornando um ato de delinquência, e, dos direitos civis dos homossexuais, se passa para a obrigatoriedade da sua normalidade. Em uma globalização assimétrica e unilateral, com um centro e várias periferias, a intolerante ideologia do secularismo chega até nós, e já é uma realidade no Brasil, com militantes em todos os partidos e esferas do poder. A existência de uma expressiva população católico-romana e o crescimento de uma população protestante (ambas com convicções e líderes articulados) se manifestou nas reações necessárias -- embora muitas vezes desordenadas, incoerentes ou interesseiras -- nas últimas eleições presidenciais, no conflito com o secularismo que distorce o laicismo e tenta, mais uma vez, colocar o Estado contra a nação. O desafio está diante de nós, cada vez mais ameaçador, e de desdobramentos imprevisíveis. Enquanto isso, uma parcela do protestantismo, em guetos, ainda cultiva o isolacionismo, a alienação política e a irresponsabilidade cívica, a ascese individual e a busca do além-mundo. Uma parcela crescente busca o poder e a prosperidade já nesse mundo. Grupos que, por muito tempo, cultivaram a alienação, chegaram à esfera pública sem reflexão bíblico-teológica ou conhecimento dos fatos e pensamentos sociais da igreja, pois o moralismo-legalismo substituiu a ética social, e a concepção de pecados sociais e estruturais. Com uma visão corporativista e clientelista, participam do mundano realismo (“é dando que se recebe”), com episódios escandalosos. Há quem salte de Davi à Dilma, presos aos paradigmas do antigo Israel, não escondendo uma tentação teocrática, “como cabeça e não como calda” (um rei ou um aiatolá evangélico...), carentes de humildade e de contribuições das ciências humanas. Históricos e pentecostais sérios, porém atingidos pelo pessimismo anabatista ou pré-milenista/pré-tribulacionista, ou pelo comodismo-consumismo, se esqueceram da visão de participação construtiva de uma cidadania responsável e promotora dos valores do reino de Deus, dos missionários pioneiros e de gerações de protestantes brasileiros; ou da visão de uma missão integral no mundo, onde, dentro das regras democráticas, devemos defender nossos lícitos interesses, e travar lícitos embates políticos pela preservação dos valores da nossa cultura, dos direitos naturais e do bem comum, tendo as instituições eclesiásticas, os indivíduos e os movimentos de inspiração cristã papéis diferenciados e complementares. O divisionismo e a desorganização dos evangélicos, contudo, apenas agravam o problema; mas, sob a Providência, uma nova realidade poderá surgir, para a relevância da igreja e o bem do país.

Dom Robinson Cavalcanti
www.ultimato.com.br

quarta-feira, 7 de março de 2012

OLHANDO FIRMEMENTE PARA JESUS


Uma característica de viver em uma cultura que oferece tantas possibilidades é perder o foco, não saber o que realmente importa. Vivemos de forma dispersa, seduzidos por uma infinidade de ofertas, criando uma ciranda de opções que mudam constantemente nosso olhar de direção. 
A perda da objetividade nos conduz a uma dificuldade na integração das diferentes realidades da vida. Somos seres distraídos, ansiosos e inquietos. A obsessão pela autorrealização, autossegurança e autoimagem surge da necessidade de dar nitidez a um cenário desfocado.
Temos a tendência de pensar que nossos problemas são externos. Porém, se não temos um foco internamente seguiremos à deriva. Como diz o velho ditado: “Quando o piloto não sabe o destino do seu barco, qualquer vento sopra a favor”. As distrações externas apenas refletem a falta de integração interna.
Na carta aos Hebreus, o autor dedica todo o capítulo 11 para descrever, em curtas biografias, a vida de homens e mulheres que viveram vidas focadas. Apesar das inúmeras possibilidades e pressões, mantiveram seus olhos fixos em promessas divinas ainda não cumpridas. Viveram e morreram por elas.
O autor entra no capítulo 12 com um relato e um apelo. Todo aquele elenco de homens e mulheres que viveram vidas focadas tornou-se uma “nuvem de testemunhas”, ajudando e encorajando outros homens e mulheres a viverem da mesma forma. O que eles fizeram? Mantiveram seus olhos fixos em Jesus.
Tenho pensado nas testemunhas que têm me ajudado a não perder o foco. Confesso que, às vezes, olho a minha volta e encontro muita gente que me incentiva com métodos, estratégias, técnicas, programas; no entanto, são poucos os que me ajudam a manter meus olhos focados em Jesus.
Algumas destas testemunhas viveram séculos atrás. Agostinho é uma testemunha fiel que sempre me ajuda a olhar com honestidade para o meu pecado e para a bondade de Deus. Ler as “Confissões” mantém meus olhos voltados para Jesus. Outra testemunha pela qual tenho grande apreço é Gregório Magno, que viveu no século 6. Sua obra “Regra Pastoral” tem me ajudado a manter o foco do ministério pastoral e evitado que me entregue às seduções dos atalhos.
Os movimentos mendicantes do século 13 me ajudam a reconhecer o valor da simplicidade. Os reformadores me inspiram tanto na devoção como no estudo cuidadoso e reverente das Escrituras. Ao longo de minha vida algumas testemunhas fiéis e verdadeiras me ajudaram a manter meus olhos fixos em Jesus. Várias delas seguem ao meu lado, anonimamente, insistindo para que jamais perca Jesus de vista.
Uma testemunha que teve grande influência em minha vida e pela qual sempre nutri grande admiração é John Stott, que há pouco tempo deixou este “corpo corruptível” para receber “o corpo glorificado”. Ele, com seus sermões, livros e dedicação, me estimulou a amar a Bíblia, a igreja e o Salvador.
A vida moderna, com suas múltiplas ofertas, intensifica o individualismo e acaba por produzir uma forma de ruptura entre a realidade interna e externa. Por outro lado, a revelação de Deus como Trindade, que tem a comunhão e a interdependência de um no ser do outro, forma a base da vida e da espiritualidade cristã. A consciência de que fomos criados por Deus e para Deus estabelece o eixo para vivermos de forma centrada.
Existe um centro na vida: Jesus Cristo. Ele é o princípio e o fim. Aquele por meio de quem tudo existe e para quem todas as coisas convergem. Diante dele se dobrarão todos os joelhos no céu, na terra e debaixo da terra, e toda língua o confessará como Senhor e Deus. Ele é o que se encontra assentado no trono, em torno do qual nós nos colocamos em adoração e obediência.
Precisamos de testemunhas. Nuvens de testemunhas. Precisamos de pessoas que nos ajudem a desembaraçar os nós do pecado e de tudo o que nos impede de caminhar em direção a Cristo. A vida moderna segue nos oferecendo muitas distrações. Manter os olhos fixos em Jesus nos possibilita viver de forma íntegra e centrada.

Pr. Ricardo Barbosa de Sousa