segunda-feira, 23 de abril de 2012

religião@eu.com


Ridicularizar a religião é hoje esporte popular. O irônico é que até pastores e profissionais religiosos se especializam em maldizê-la. Não sem razão, pois o estado atual do evangelicalismo brasileiro provoca náuseas. Porém, a onda de revolta contra a religião não é apenas nossa. O debate, que tem ar virtuoso, circula o Ocidente e é alimentado por vídeos virais e pelas mídias sociais. O jovem que aparece em um vídeo no youtube, em uma praça, dizendo que odeia a religião, mas ama Jesus tem jeito de herói.Pergunto-me se existe mesmo virtude nessa conversa. Haveria a possibilidade de dar alguma resposta a Jesus e ao seu amor sem que ela tomasse uma forma social? O debate é, no mínimo, inócuo. Não conduz a nenhuma atitude transformadora, mas a um orgulho excludente. 
O Brasil de hoje precisa levar a sério a religião. Os protestantes atuais, dados à iconoclastia e à difamação indiscriminada uns dos outros, odeiam esta palavra e tudo o que se relaciona com ela. A verdadeira espiritualidade vem sendo proclamada como uma abstração de tudo. Abstrai-se o viver em comunidade, pois a forma igreja já não corresponde ao ideal; assim como se abstrai o servir, o adorar, a mensagem da salvação e a Bíblia. Só eu e você não somos abstraídos. Aliás, continuamos humanos e cheios de necessidades não abstratas. 
Temos de entender que a não forma é uma forma. Pregar um evangelho sem forma cultural alguma, sem nenhuma proposta institucional, é torná-lo vazio, irrelevante, incapaz de dialogar com a sociedade. 
Se nos sábados à noite vamos à casa do Zé para beber vinho, fumar charutos e discutir questões bíblicas, esta é a nossa igreja. Fumar charutos e beber vinho passam a ser nossas práticas religiosas. A casa do Zé ou da Maria se institucionaliza e se torna nosso “templo”. Assim é o ser humano, assim se forma a cultura. É arrogante pensar que essa pseudo não forma é melhor do que uma proposta atual ou histórica. 
Quando entendemos a verdadeira natureza do evangelho, percebemos que a religião cristã não é a grande inimiga. Antes, o vazio dela o é. Jesus não pregou a rejeição às formas culturais da religião, mas a encheu de graça e significado. Ao fazê-lo, virou o “establishment” religioso de cabeça para baixo. Não porque os odiasse, mas porque os amava. Quando entendemos este amor, passamos a colecionar as graças mais diversas encontradas por toda parte e em todas as formas religiosas. Passamos a nos compadecer dos homens que tentam reproduzir o sublime tanto nas igrejas-garagens como nas catedrais. 
A graça se torna história coletiva e toma a forma da casinha de madeira que hospedou a primeira Assembleia de Deus fundada no Brasil ou da catedral Metodista, de concreto cinza, ainda imponente, e que diz ao bairro Liberdade, em São Paulo: “Ele se importa”. A graça se torna memória nos hinos antigos e coletiva quando sai de mim e é formalizada no plural, no serviço religioso. Negar a importância dos símbolos, dos cheiros, dos sons da mensagem sublime de Deus, manifesta na religião, é negar a nossa condição humana. 
O Verbo se fez carne. Para que continue se fazendo carne hoje, ele nos chama como somos: seres culturais. Seres que sinalizam a mensagem divina por meio de ideias, rituais, hábitos, projetos arquitetônicos, propostas de ressocialização, conversas, pregações, músicas, pinturas, esculturas. Tudo o que faz parte da vida humana pode ser transformado em mensagem divina. Este processo de divinização coletivizada se chama religião. 
É preferível, então, se ter religião a ser religioso. O religioso é aquele que faz da forma o seu deus. Pergunto-me se não é isto que muitos dos que protestam contra a religião estão fazendo. O Deus que advogam é tão pequeno que não pode se misturar à história e à sociedade humana e sair incólume. Jesus é diferente. Senta-se humildemente na igreja-garagem ou levanta-se com voz impostada para pregar nas catedrais, sempre ocupado em tocar vidas. 

Bráulia Ribeiro 
www.ultimato.com.br

domingo, 8 de abril de 2012

NO CAMINHO DA GRAÇA


As freiras nos ensinaram que existem dois caminhos na vida, o caminho da natureza e o caminho da graça. Você precisa escolher qual deles vai seguir. A graça não procura satisfazer a si própria, ela aceita que a desprezem, que a esqueçam, que não gostem dela, ela aceita ser insultada e ser ferida. A natureza só que satisfazer a si mesma e fazer com que os outros a satisfaçam. Ela gosta de ser livre e que façam a sua vontade. Ela procura razões para ser infeliz quando o mundo todo esta feliz a seu redor e o amor está sorrindo através de todas as coisas. As freiras nos ensinaram que quem ama o caminho da graça jamais tem um fim triste. Eu serei leal a você, aconteça o que tem que acontecer.
Essas palavras citadas na introdução de Árvore da vida, o deslumbrante filme de Terrence Malick, me colocaram diante de realidades antagônicas: um mundo fechado e um mundo aberto; o caminho inexorável e o caminho passível de surpresas; o determinismo e a possibilidade; o (pré)destino e a liberdade, ou sua irmã, a esperança; o previsível e o inusitado; a confirmação das probabilidades e a reversão dos prognósticos; o fatalismo e o milagre.
Penso que quem acredita que a única estrada por onde o mundo deve e pode caminhar é aquela prevista pelos sentidos da razão, vive no caminho da natureza; quem vive aberto ao mistério, no caminho da graça. Quem deseja uma ordem lógica que a tudo explica, a tudo justifica e tudo faz acontecer na perspectiva do que é justo, vive no caminho da natureza; quem prescinde de lógicas e explicações e está vulnerável a fatos que estão além ou aquém de justificativas justas e coerências racionalistas, vive no caminho da graça.
Evidentemente, não estou dizendo que a graça é irracional, ou que Deus seja incoerente ou injusto. Apenas estou intuindo que o universo é sustentado por um critério que transcende a justiça, a saber, a graça.
Quando me deparo com argumentos do tipo “Deus não pode curar uma criança pelo simples fato de que não cura todas”, sinto meus pés fincados no caminho da natureza: as coisas têm que ser assim porque somente assim fazem sentido, têm lógica, têm critério de justiça. Deus é submetido a “tem que” ou “não pode”, isto é, seu caminho é confundido com o caminho natureza. Por outro lado, quando me deparo com fatos que não podem ser explicados, ainda que não correspondam à equanimidade que espero e gostaria de ver no universo, tenho a estranha sensação de que algo ou alguém que não me deve satisfações – ou cujas explicações estão fora do meu alcance, está agindo no mundo independentemente de mim, do que eu acho, do que eu creio ou do que considero justo.
Toda vez que me surpreendo exigindo explicações e tentando fazer Deus caber nos limites do meu entendimento, ouço o sussurro que me faz crer estar diante de um ídolo. Isso me humilha e me devolve ao estado de criatura. Serve para me lembrar que o universo segue seu curso pelo caminho da graça, e não da natureza. Traz os meus pés para o desconhecido, vulnerável e inexplicável solo da graça e do mistério de Deus. Olho para baixo e não vejo mais o chão. E me dou conta de estar no lugar mais seguro do mundo. 

Ed Rene Kivitz

segunda-feira, 2 de abril de 2012

O CORDEIRO PASCAL

A Páscoa foi uma festa instituída por Deus em lembrança da libertação dos israelitas da escravidão do Egito. O nome significa passagem, alusão à visita do anjo da morte que eliminou os primogênitos egípcios e preservou os hebreus cujas portas das casas tinham sido aspergidas com o sangue do cordeiro pascal (Ex.12.11-27).
Era uma festa com muitas regras a serem observadas pelo povo. O cordeiro morto tinha que ser sem defeito, novo e macho. Na mesma noite, o cordeiro assado deveria ser comido com pão asmo e ervas amargas, não devendo ser quebrados os seus ossos. Se havia sobra para o dia seguinte, esta devia ser queimada. Durante os oito dias da Páscoa não se podia comer pão levedado. Era tão rigorosa a obrigação da guarda da Páscoa que todo aquele que a não cumprisse seria condenado à morte (Nm 9.13). E aquele que tivesse qualquer impedimento legítimo, como jornada, doença ou impureza, tinha que adiar sua celebração até ao segundo mês do ano eclesiástico. Vemos um exemplo disso no tempo de Ezequias (IICr 30.2-3).
Para os cristãos, Jesus Cristo é o sacrifício da Páscoa. Perfeito e sem pecado. Isso é claro na profecia de João Batista, em Jo. 1.29: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!" e na ordem do apóstolo Paulo: "Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado." (1Co 5.7).
Jesus Cristo é o Cordeiro de Deus que foi sacrificado para salvação e libertação dos pecados de todo homem que crê. Para a saída da escravidão do pecado e da morte e entrada na liberdade que nEle há.
Para isso aprouve a Deus que a Sua morte acontecesse exatamente no dia da Páscoa judaica, apresentando de forma clara o paralelo entre o sangue do cordeiro e o sangue do próprio Jesus.
A Páscoa dos hebreus libertou-os da escravidão física e da opressão dos egípcios. O sangue de Jesus nos livrou da escravidão espiritual, do pecado e da morte eterna.
Como Paulo declarou “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). E ainda Pedro: “Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo” (IPe. 1.18,19).

Rosane Itaborai Moreira

Postado em 03/04/2010