quinta-feira, 28 de junho de 2012

A LEI DA GRAÇA

Vivemos num mundo capitalista e, mais do que isso, degenerado pelo pecado; daí a dificuldade de lidarmos com a graça. Não entendemos que Jesus nos deu a vida eterna e não exige nada de nós por isso, apenas que aceitemos gracioso presente.
Não são mais necessários sacrifícios, obras ou lei, pois o sangue de Cristo foi o sacrifício definitivo, obra perfeita e cumprimento final da lei.
Para entender viver na graça de Cristo é necessário compreender Suas palavras. Na parábola da Videira e os ramos, o Senhor diz: “Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.” (Jo. 15.5)
Ou seja, apenas sendo totalmente dependente de Cristo, estando ligado íntima e definitivamente a Ele é que se produz resultados na vida cristã, pois até quem faz somente o que é correto será por Jesus rejeitado se não for um discípulo seu.
Nosso julgamento primário não será por nossas obras, e sim por quem escolhemos como Senhor: se foi Jesus Ele sempre nos reconhecerá e viveremos eternamente.
A Lei do Antigo Testamento nos serviu como um “aio”, um condutor que mostrou o nosso pecado e a necessidade da misericórdia e perdão de Deus. Cumprida por Cristo, tornou-se desnecessária e, agora, a lei da Graça resume-se no amor.
Quando os religiosos perguntaram a Jesus qual era o maior mandamento, Ele respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Mt. 22. 35-37). E ainda os surpreendeu (v. 38): “Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.”.
Sendo a lei do amor muito mais abrangente do que a lei mosaica, pois sonda as intenções do coração, não conseguimos vivê-la por nossas virtudes, mas somente pelo poder de Deus. Ou seja, apenas se estivermos presos como ramos na Videira, que é Jesus.
Aos cristãos cabe “negar a si mesmo”, “tomar a cruz e seguir”, “caminhar a segunda milha”, “oferecer a outra face”, “vencer as tentações”, só que debaixo da lei do amor, através da graça de Cristo, pois o homem natural não é capaz de atos tão nobres e tamanho desprendimento.
Se quisermos viver a vida abundante e a liberdade que Jesus nos oferece, precisamos aceitar que simplesmente a graça nos salva e que a vida em Cristo, apesar de não ser fácil, é suficiente para garantir bons frutos em nossa caminhada cristã. Somente o amor de Deus deve nos constranger. Sem legalismo, medo do inferno ou do diabo. Apenas pela lei da graça: o amor.

Rosane Itaborai Moreira

Postado em 05/06/2010


sexta-feira, 8 de junho de 2012

A SOBERANIA DE DEUS


Todos nós precisamos constantemente afirmar e reconhecer o poder de Deus. É bom saber que o Deus em quem nós cremos é soberano e governa sobre todas as coisas, que nada escapa ao seu controle, que nem mesmo um fio do cabelo de nossa cabeça cai sem o seu consentimento e que ele mesmo conduz todas as coisas para o cumprimento dos seus propósitos eternos. É bom saber que mesmo os que se julgam poderosos e agem com extrema arrogância encontram-se sob o domínio daquele que reina para sempre, e que um dia se curvarão diante dele e o reconhecerão como Senhor. "O Senhor reina" é a confissão de fé de todos os crentes, em todas as épocas da História.
Contudo, se de um lado reconhecemos e afirmamos o poder e a soberania de Deus, e gostamos de saber que ele governa - pois é esta verdade que nos dá segurança e esperança -, nem sempre demonstramos a mesma alegria com a forma como Deus reina e dirige a vida de cada um de nós. Queremos o seu poder para solucionar os conflitos que nos afligem, para nos abençoar com as dádivas que necessitamos, mas quando Deus usa este mesmo poder para nos disciplinar e nos libertar das algemas que nos aprisionam, mas que aprendemos a gostar tanto delas, é comum nos revoltarmos contra ele. Quando Deus usa o seu poder para nos fazer andar por caminhos que não planejamos e experimentar as provações que necessitamos para nossa transformação, mas que nos ferem e trazem grande sofrimento, levantamos suspeitas sobre o seu amor e poder.
É assim que temos vivido. Nossas crenças são experimentadas de acordo com nossas conveniências e não contemplam a totalidade das nossas experiências. Somos gratos quando nos convém ser gratos, quando coisas boas acontecem e podemos dizer "obrigado" com tranqüilidade. Mas quando coisas ruins acontecem, quando passamos por momentos de dor e tristeza, fracasso e rejeição, transformamos a gratidão em murmúrio e desconfiança. Quando nos sentimos "abençoados" e experimentamos o sucesso na vida profissional, a paz na família, a segurança no trabalho, a alegria da comunhão com os irmãos, a estabilidade financeira, o reconhecimento e aceitação daquilo que somos e fazemos, não temos nenhuma dificuldade para reconhecer que é Deus que nos tem guardado e abençoado com seu poder; todavia, quando vivemos o reverso desta moeda, tiramos Deus de cena e colocamos o diabo, as forças ocultas, os inimigos e as incompreensões. Aí, tornamo-nos pessoas amargas, incapazes de reconhecer o poder e soberania de Deus na nossa vida e sobre todas as cosas.
Sei que é difícil mudar isto e não estou propondo que devemos reagir do mesmo jeito em todas as circunstâncias porque cremos na soberania de Deus. A alegria e a tristeza, a dor e o consolo encontrarão sua forma própria de se expressar. No entanto, as nossas convicções precisam se estender a todas as situações vividas e isto requererá um longo e duro trabalho espiritual. Só iremos amadurecer espiritualmente quando formos capazes de dizer em qualquer situação vivida: "o Senhor reina".
Enquanto permanecermos divididos entre os eventos e pessoas que gostamos de lembrar e aqueles que procuramos esquecer, as experiências que nos agradam e aquelas que nos causam pesar e desapontamento, não poderemos afirmar o governo pleno de Deus sobre nossas vidas. Em conseqüência, isto irá nos levar a não reconhecê-lo em todos os nossos caminhos.
Reconhecer que o Senhor reina nos levará a aceitar que tudo o que experimentamos, todas as situações vividas, os encontros e pessoas que passaram e ainda passarão pela nossa vida e todas as circunstâncias cooperam para o nosso bem. Jó, depois de ter passado por uma experiência terrível, após ter perdido todos os seus bens, ver sua família sendo dizimada, sua honra e prestígio virando pó, volta-se para Deus e, numa oração singela, diz: "O Senhor deu, o Senhor tomou. Bendito o nome do Senhor". Jó mantém sua fé e confiança no reinado de Deus e não divide sua alma. Ele não diz: "O Senhor deu e o diabo tomou", o que poderia ser até compreensível. Mas ao dizer que foi o Criador que deu e tomou, ele estabelece um princípio que integra sua crença com sua vida. É esta integridade que possibilita a Jó viver uma das experiências mais transformadoras de toda sua existência.
Precisamos dar um pouco mais de coerência às nossas crenças, reconhecendo a soberania de Deus em tudo, e aprender a ser gratos pela forma como ele nos conduz no mundo. Precisamos romper com o medo e a suspeita e aprender a olhar para tudo que acontece conosco a partir da verdade de que o Senhor reina. E confiar que ainda veremos a sua boa e segura mão nos guiando.
Confiança é a condição básica para vivermos uma vida espiritualmente madura. Os trapezistas nos oferecem uma belíssima imagem disto, pois a condição da sua arte depende da confiança naquele que irá segurá-lo. Eles podem aventurar-se a saltos mortais triplos porque sabem que o outro estará lá, no lugar certo, na hora certa. Enquanto não confiamos que Deus nos sustenta e guarda, que nos segura e protege, viveremos uma vida dividida entre aquilo que gostamos e cremos proceder de Deus e aquilo que não gostamos e desconfiamos da sua procedência. Ao fazer isto, viramos juízes dos atos de Deus. Julgamo-nos melhores do que o próprio Deus.
Na história de Jó, sabemos que foi o diabo que impôs sobre ele aquela enorme tragédia, mas ao dizer que Deus deu e Deus tomou, ele reconhece que sua vida nunca encontrou-se dividida, que o reinado de Deus é pleno e absoluto, e buscou no Senhor que reina a resposta para seus conflitos.
Precisamos unir nossas vozes a de muitos outros irmãos e irmãs, e adorar aquele que reina pelos séculos dos séculos, reconhecendo que seu governo se estende sobre todas as coisas e que conduzirá tudo para o fim que ele mesmo determinou.

Pr. Ricardo Barbosa de Souza
Texto extraído originalmente da coluna Espiritualidade da Revista Eclésia