sábado, 29 de dezembro de 2012

RESTAURA, SENHOR, A NOSSA SORTE

Dia 30 é o último domingo do ano de 2012. É tempo de fazer um balanço. Devemos olhar para trás com gratidão, para o presente com súplicas e para o futuro com esperança. O Salmo 126 ajuda-nos nesse exercício. Em primeiro lugar, devemos olhar para o passado com gratidão (Salmo 126.1-3). Depois de setenta anos de escravidão na Babilônia, Israel voltou à sua terra. Deus tirou o povo do cativeiro com mão forte e poderosa. Essa libertação produziu ditosa exultação entre o povo e impacto entre as nações. Quando olhamos, também, para o passado, notamos que Deus nos tirou da escravidão para a liberdade, das trevas para a luz e da morte para a vida. Deus quebrou o nosso jugo e despedaçou nossas algemas. Jesus Cristo redimiu-nos de um terrível cativeiro. Éramos escravos do diabo, do mundo e da carne. Vivíamos debaixo de cruel opressão. Porém, Cristo nos libertou e hoje somos livres. Pertencemos à família de Deus. Somos herdeiros de Deus e estamos assentados com Cristo nas regiões celestes, acima de todo principado e potestade. Há um cântico em nossos lábios e uma festa em nossa alma.
Em segundo lugar, devemos olhar para o presente com súplicas (Salmo 126.4). O salmista voltou os olhos do passado para o presente e percebeu que as vitórias do ontem não servem para nos manter de pé hoje. O mesmo salmista que estava exultante com a libertação do cativeiro, agora, ao contemplar a realidade presente, clama: “Restaura, Senhor, a nossa sorte com as torrentes do Neguebe”. O passado de glória tinha se transformado num deserto cinzento. As vitórias do passado não eram suficientes para torná-lo vitorioso no presente. Todo o dia é tempo de andar com Deus. Todo dia é tempo de ser cheio do Espírito. Não podemos viver do passado nem morar na saudade. Precisamos depender de Deus a todo tempo, o tempo todo. Mais do que isso, é preciso saber que não temos forças para restaurar nossa própria sorte. Só Deus pode restaurar nossa vida. Só Deus pode aprumar nossos joelhos trôpegos. Só Deus pode nos encher de entusiasmo, quando nossa alma parece um deserto árido.
Aprendemos com isso, porém, que a crise não é o fim da linha. A sequidão de nossa vida não deve nos levar ao desespero, mas à súplica ardente. A consciência da crise espiritual pode nos levar aos pés do Senhor para uma virada bendita em nossa história. Somente o Senhor tem poder para nos restaurar. Só dele vem a nossa cura. Essa restauração é uma obra milagrosa. Assim como os rios invernais rasgam as areias escaldantes do deserto do Neguebe, o maior deserto da Judéia, Deus também, faz nossa alma florescer em tempos de sequidão. Ele mesmo nos concede um novo vigor espiritual e transforma nossos vales em mananciais cheios de vida!
Em terceiro lugar, devemos olhar para o futuro com esperança (Salmo 126.5,6). Depois de olhar para o passado com gratidão e para o presente com súplicas, o salmista, agora, olha para o futuro com esperança. O amanhã será de semeadura e investimento. A semeadura exige desinstalação e ação. É preciso sair para semear. A semeadura exige abnegação e sacrifício, pois além de sair, o semeador anda e chora, regando o solo duro com suas lágrimas. Se a semeadura é regada de lágrimas, a colheita certa é feita com júbilo. A recompensa da colheita é maior do que o sacrifício da semeadura. Fazer a obra de Deus é investir para a eternidade. É realizar um trabalho de consequências eternas. Não devemos afrouxar nossos braços nessa bendita peleja. É hora de arregaçarmos as mangas e trabalharmos com mais fervor. O tempo urge. A noite se aproxima. Então, não haverá mais tempo de semear.
Hoje, Deus nos convoca para sermos seus cooperadores. Concede-nos a graça de investirmos nosso tempo, bens, talentos e dons em seu trabalho. Portanto, levantemo-nos, irmãos, e coloquemo-nos a seu dispor. O Deus da nossa salvação e da nossa restauração, agora, nos alista em seu trabalho. Mãos à obra, sem esmorecer. Lança a semente, com a certeza de que o crescimento, Deus mesmo nos dará.

Reverendo Hernandes Dias Lopes
www.lpc.org

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

SATANIZARAM O NATAL

Satanizaram o Natal. Me parece até surreal quando vou a igrejas, e a sites evangélicos, e não se faz nem uma referência ao Natal sequer, nem se tem um culto de celebração dia 24 ou 25 parte da tradição cristã há tantos séculos. Às vezes não acredito, me belisco, penso, não, esta doença vai passar, mas que nada, se alastra mais e mais. Mesmo os cristãos que contra a corrente mandam seus cartõezinhos, se sentem no dever de nos exortar contra o comercialismo, contra os presentes, no meio de votos tímidos de felicidade e feliz ano novo. Quando encontro um irmão na rua e desavisadamente cumprimento com um animado: “Feliz Natal!” Eles me olham como se estivesse falando uma heresia, ou num ar condescendente explicam que já não estão mais neste mundo e que Cristo nasce todo dia….
Tradições religiosas como o Natal tem o papel de reforçar valores sociais comuns. Enquanto no carnaval e no reveillon, a tradição é subverter valores, se esbaldar, praticar o impraticável durante o resto do ano, por isto são chamados por Roberto Damatta, antropólogo brasileiro de “ritos de inversão”, na festa do Natal principalmente os trabalha para reforçar os valores positivos. 
Natal é a festa da família, de comer juntos um peru, de decorar a árvore ou o presépio, de cantar hinos, de se presentear os amigos, os familiares, de dar gorjetas maiores, de pensar nos que estão distantes. Nesta época Holywood lança inúmeros filmes sobre pais e filhos, pais desnaturados com valores errados, que de alguma forma perderam a noção do que é importante, e nesta época se encontram com algo que “os converte” novamente à família. Nesta época até os sem religião ficam com os olhos marejados diante de um presépio bem feito, ou dos garotos cantando canções natalinas nas janelas do HSBC em Curitiba.
Boicotar as festas cristãs mais importantes como o Natal e a Páscoa é boicotar-se a si mesmo, perder uma boa oportunidade para falar de Cristo, abraçar pessoas, espalhar fraternidade e carinho numa época em que as pessoas se voltam automaticamente umas para as outras. Nossa vida em sociedade é feita de ritos, tradições e heranças simbólicas. Estes crentes anti-natal, dominados por um zelo místico e sem respaldo bíblico querem renegar todas suas tradições culturais, até as mais inofensivas.
Ritos de reforço são tão necessários quanto ritos de inversão. Não é porque nos convertemos que deixamos de ter cultura. Continuamos a ter necessidade de reforçar socialmente o que acreditamos. Ironicamente a falta do Natal, junto com a demonização de certos símbolos cristãos como a cruz, continuou tendo este mesmo fim social. Se tornaram os “desritos” que reforçam a separação evangélica do mundo. Mas porquê se tornaram necessários artifícios sociais como estes, se a nossa cultura cristã quando puramente bíblica já nos “marca” automaticamente com uma diferença moral, já nos banha como o hissopo da conversão do caráter que tem não tem paralelo a nenhuma outra experiência humana? A mudança de caráter, a conversão de valores é segundo Jesus (Jo17) e deveria continuar sendo a maior marca que torna os cristãos conhecidos não importa a cultura, os ritos que praticam ou deixam de praticar, a freqüência ou não na igreja.
Infelizmente o sincretismo moral tomou conta da igreja. Pregamos nos nossos púlpitos do mesmo jeito que se prega nas palestras de auto-ajuda nos auditórios de hotéis. Você pode, você merece, você tem direito. Estamos debaixo da soberania do eu, da tirania da felicidade egoísta. Se distribuem riquezas, beleza, orgasmos múltiplos, alegrias festivas nos púlpitos, numa supercialidade que nos faz duvidar que Jesus morreu na cruz, mas deve ter acendido aos céus numa almofada cor de rosa.
O Natal vai sim se tornar uma festa cada vez mais pagã. Vai se falar mais em trenós, duendes e renas, neve (mais uma estupidez nossa, europeus dos trópicos) e cada vez menos no nascimento de Jesus, porquê nós não vamos estar presentes no cenário cultural geral para salgar nada. Vamos ignorar a importância da história mais recente, super-valorizando uma origem pagã datada de milhares de anos atrás.
Nosso cristianismo vai se tornar apenas uma experiência mística vazia, ao invés de uma realização do fato mais importante da história da humanidade, o nascimento do criador em forma de homem. Fato constado historicamente, documentado, materialmente fisicamente e culturalmente real num dia específico da história humana. Um dia ele nasceu, não sei se em setembro, novembro ou dezembro, a acuracidade do mês e do dia não importa tanto quanto o evento. Um bebê humano em toda sua fragilidade, chorou ao ser parido por uma mãe humana. Mas nele havia o DNA divino. Nele estava contida toda a plenitude da divindade, numa maneira que nossa mente limitada não alcança entender. Ele era Deus mas não teve por usurpação o ser igual a Deus, mas antes tomou a forma de servo e seguiu até a morte na cruz.
Nascer, viver, morrer e ressuscitar de uma maneira divina, no entanto humana foi sua mensagem principal. Eu os amo, amo a ponto de me encarnar, de me limitar à sua humanidade, de me tornar criatura, eu o Criador, e assim ensinar-lhes como viver. E assim marcar a história humana com um AC DC. E assim me tornar o autor da maior transformação que a humanidade já sofreu. Esta história que se repete hoje nas nossas vidas, é verdade que ele “nasce” dentro de nós quando nos convertemos, teve um início.
Só me resta agora lamentar nossa ignorância. Ignorância religiosa, sociológica, cultural. Desprezamos símbolos importantes numa fase em que deveríamos reforçar-lhes o valor. Iludidos por ensinos enganadores, superficiais, que desconsideram tanto a história deixamos de relembrar a humanidade do que ela já sabia, mas está esquecendo.
Só me resta lamentar este evangelicalismo armadilha no qual fomos presos. Não sabemos ser cristãos mais. Tornamos-nos semi-bruxos esotéricos, neo-cristãos-medievais próximos das experiências místicas, mas distantes das verdades históricas profundas. Somos capazes de pregar uma felicidade terrena sem limites, mas incapazes dos sacrifícios morais, incapazes da verdadeira santidade, somos capazes de discriminarmo-nos uns aos outros com base em sutis discrepâncias doutrinárias, no entanto incapazes de amar.

Bráulia Ribeiro        
www.genizahvirtual.com