sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A PALAVRA DE CRISTO

"Habite ricamente em vós a palavra de Cristo", exortou Paulo aos colossenses (Colossenses 3.16). A expressão "palavra de Cristo" pode significar a palavra falada por Cristo, mas comunicada por algum membro da Igreja que tinha mais conhecimento sobre aquilo que Jesus ensinou durante sua jornada na terra. Cristo tinha comissionado seus discípulos a ensinar e guardar tudo aquilo que Ele mesmo lhes havia ensinado durante os anos em que conviveram. Os ensinamentos de Cristo provavelmente eram ouvidos com muito interesse, não sendo possível dizer quando os discípulos parafrasearam esse acervo de conhecimento. Tampouco podemos opinar se os seguidores tomaram notas em pedaços de papiro ou pergaminho, pois não há evidências. Mas o que podemos deduzir é que o interesse na "palavra de Cristo" era grande. Paulo era capaz de deixar clara a distinção entre o que Jesus havia dito e o que ele mesmo acrescentava, como fez quando abordou a questão do divórcio e da separação entre o marido e a mulher (1 Coríntios 7.10,12). Não custa lembrar que nessa altura não existia nenhum dos evangelhos, mas ainda sim Paulo conhecia detalhes daquilo que o Mestre havia passado para os apóstolos.
Paulo, é bom lembrar, nunca visitou Colossos (Colossenses 1.4). Portanto, pode nos surpreender que exista nesta carta uma admoestação para uma igreja na pequena cidade de Colossos, no interior da Ásia, para que a palavra de Cristo habitasse ricamente nos corações de seus membros. Colossenses 3.16 revela os elementos do culto: palavra, ensino, exortação e cântico. A parte central do culto era comunicar os ensinamentos de Jesus e aplicá-lo às vidas dos cristãos novos. A riqueza do habitar dessa palavra nos corações se refere, certamente, à seriedade com que os irmãos deveriam receber a mensagem e se comprometer em guardá-la.
Hoje não é diferente. Temos os quatro evangelhos repletos do ensino do Senhor Jesus Cristo, porém, isto não quer dizer que temos atitudes mais comprometidas com a obediência às ordens de Jesus. A seguinte admoestação deveria ser subjacente em todo culto e na própria leitura da Bíblia: "Habite em vós a palavra de Cristo." Um compromisso com o ensinamento de Cristo não pode faltar no culto e na vida.

Russell Shedd
www.vidanova.com.br

domingo, 14 de agosto de 2011

"O PÃO NOSSO DE CADA DIA..."

Durante muito tempo achei esta súplica meio fora de lugar na oração do Senhor. Minha maior dificuldade vinha de uma sensação hipócrita de saber que este pão encontra-se estocado na despensa de minha casa. Para as famílias que não sabem o que terão para o almoço, esta súplica parece fazer sentido, mas para mim e tantos outros que entram nos supermercados e abastecem suas despensas para os próximos quinze ou trinta dias, não faz muito sentido pedir pelo “pão nosso de cada dia”. Sabemos que ele já está garantido na mesa hoje, amanhã ou na semana que vem. Por que então orar pelo “pão de cada dia”?
Eu poderia minimizar minha dificuldade dizendo que, mesmo este pão já garantido, é dádiva de Deus. Sei que é. O que não fazia sentido para mim era o porquê desta súplica (não a gratidão por tudo que Deus tem me dado). Pensemos, por um instante, num paciente de classe média aguardando uma cirurgia num hospital. Provavelmente sua preocupação será mais com a competência da equipe médica, com os recursos tecnológicos disponíveis, e menos com a oração; a oração entra como um ator coadjuvante, caso alguma coisa saia do controle, mas não como a preocupação central. Somos tentados a crer que Deus está presente apenas nas sombras de nossa consciência. Que ele é capaz de atender às necessidades emocionais confusas, aos problemas para os quais a ciência não tem respostas, mas totalmente irrelevante para o “pão de cada dia”.
O “Pai Nosso” é nossa primeira escola de oração. Nesta súplica Jesus nos ensina que a oração não é uma ferramenta técnica, usada para excitar nossa curiosidade. Pelo contrário, ela nos envolve num exercício de fé e compreensão da realidade que está além da ciência. Ela não é um meio de manipular a criação, mas uma forma de compreender e penetrar na realidade dela.
Ao suplicar “o pão nosso de cada dia dá-nos hoje” colocamos Deus no centro de nossas necessidades cotidianas. Se Deus é percebido apenas nas fronteiras de nossas vidas, nas grandes crises ou nos grandes eventos, esta súplica não tem significado algum. Mas, como Deus nos é revelado como nosso “Pai que está nos céus”, a súplica pelo “pão de cada dia” revela a presença de Deus no que há de mais simples e comum no nosso dia-a-dia.
O reino de Deus envolve a vida inteira. Nada é trivial diante de Deus. Nossas necessidades profissionais, afetivas, físicas, emocionais, tudo importa a Deus. Ele é o Deus do cotidiano, das pequenas coisas, do pão sobre a mesa e do sol que se põe ao entardecer. Deus se interessa pelo fio de cabelo que cai e pela mão que o toca no meio de uma multidão. A oração do “Pai Nosso” nos torna conscientes de que a experiência da oração não envolve apenas as situações de emergência ou as ansiedades do futuro, mas é pão para hoje, para as necessidades e situações do presente. É uma oração que nos ensina a não nos preocupar com o dia de amanhã. A fé cristã, para muitos, se mostra mais relevante nas lembranças do passado ou nas preocupações com o futuro, mas não tem nenhuma relevância para o presente. É no “pão de cada dia” que a graça de Deus se mostra real. O maná do deserto servia somente para o presente, nunca para o futuro. A ansiedade do futuro apodrece a graça do presente.
Outro aspecto desta súplica é que ela nos ensina a orar pelo “pão nosso”, não “meu”. É uma oração que precisa ser feita com os olhos bem abertos porque, ao fazê-la, nos tornamos mordomos responsáveis dos bens de Deus. Ela integra o básico, o “pão de cada dia”, em meio a tantas “necessidades” criadas pelo espírito consumista. Ela pede por justiça, que é fruto da conversão do “meu” para o “nosso”, e rompe com o egoísmo, nos transformando em seres solidários. Com ela aprendemos a valorizar o essencial (oramos pelo pão, não pelo caviar), porque a vida está na relação comunitária, na fidelidade e responsabilidade para com Deus, dono da prata e do ouro, da comida e da bebida, que nos confiou os seus bens para cuidar dos seus filhos. É a fé tomando forma nas situações mais reais da vida.

Pr. Ricardo Barbosa de Sousa
www.ultimato.com.br

domingo, 7 de agosto de 2011

CUIDADO COM OS ATALHOS

“Tenho recebido, com certa frequência, propostas tentadoras para ganhar muito dinheiro sem trabalho e sem sair de casa. Algumas vêm pelo correio outras pela Internet. Outros já receberam por meio de correio as famosas pirâmides, nas quais, através de uma matemática duvidosa, a pessoa envia R$2.00, reproduz algumas cartas e pode ganhar até R$300 mil ou mais. Muitos ingênuos entram e alguns pouquíssimos espertos sempre ganham — dos ingênuos, é claro. Tenho recebido, também, com mais frequência do que as pirâmides e promessas alusivas a Bill Gates, propostas tentadores para solucionar problemas espirituais, eclesiásticos, pastorais e relacionais. São folhetos convidando para encontros, congressos, cursos e retiros que prometem a solução dos problemas relacionais, que a liderança das igrejas será mais dinâmica, que a vida de oração do crente será mais poderosa, que será batizado com Espírito Santo e receberá os dons que farão dele tudo aquilo que sonhou. Tudo será resolvido numa final de semana, numa palestra, num congresso, numa oração.
Somos fascinados pelos caminhos mais curtos, seja para a solução de um problema econômico, espiritual ou de um conflito relacional. Trilhar o longo caminho da obediência, da dignidade, do trabalho honesto, da honra, do respeito, da formação do caráter, acaba, em ou outro momento, esbarrando na pressa e na sedução dos atalhos! Na busca frenética pelos atalhos encontramos os especialistas, aqueles que farão o seu caminho mais curto. Eles não perdem tempo com a complexidade da vida, vão direto ao ponto, pois em fim o caminho mais curto entre dois pontos é uma reta. Não sabe esperar, prefere os atalhos aos caminhos longos, a satisfação imediata ao crescimento maduro, as relações superficiais às amizades verdadeiras, preferem ser roborizados.
Creio nos milagres e na intervenção divina que sobrenaturalmente transforma, liberta, cura e salva. Minha preocupação é com os atalhos que temos criado para a vida e a fé! A complexidade da vida e da experiência espiritual não pode ser simplificada e tratada com recursos técnicos. O processo do crescimento sempre passa por caminhos longos, sempre enfrenta desertos e vales áridos. A recomendação sábia e orientada pelo Espírito Santo nas Escrituras é para ter paciência nas tribulações.
No caminho longo da maturidade não há atalhos! Mas todas as vezes que temos que enfrentar as lutas e complexidades da vida, tornamo-nos vulneráveis aos atalhos. Ao invés de percorrer o caminho longo do discipulado de Cristo, discernindo sua vontade através do estudo cuidadoso e diligente das Escrituras, respondendo com obediência e submissão, buscando o poder e direção do Espírito Santo para viver a vida de fé, preferimos o atalho de um final de semana em que algum religioso carismático e especializado irá libertá-lo do caminho natural do discipulado e, como um passo de mágica, promovê-lo a mestre e discipulador de outros.
Tome cuidado com os simplificadores da vida, com os atalhos da fé! Jesus, ele mesmo nos alertou para o caminho largo, fácil, convidativo, e espaçoso. Ele disse que a vida tem que passar pelo caminho estreito, apertado, difícil e árduo. A dura realidade é que não existem atalhos para o amadurecimento. Jesus nunca propôs nenhum atalho — short cut, nunca simplificou a vida, jamais apresentou qualquer substituto para a cruz que temos que carregar.
A vida continua tal como era nos tempos de Nosso Senhor! Se aquilo que plantamos é uma boa semente, foi colocada num bom solo, regada e cuidada com carinho e amor pelo bom jardineiro, ela florescerá e dará frutos bons. Mas se o que plantamos é a semente da pressa e do interesse próprio, colocada na superfície de um solo volúvel e arenoso, regada com a impaciência de um jardineiro imaturo, ambicioso e vilão, ela morrerá antes mesmo de nascer. Cuidado, queridos irmãos com os atalhos nefandos e simplicadores da vida e da fé cristã!"

Pr. Ricardo Barbosa de Souza
www.monergismo.com

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

TENTAÇÃO DOS ATALHOS

Como é difícil esperar. Pelos outros, pelos processos, pelos frutos, pelos resultados... Esperar pela resposta do organismo a um medicamento, pelo resultado de um trabalho feito,... Não é, definitivamente fácil, esperar pelo que não está nas nossas mãos.
Isso exige de nós paciência, confiança e perseverança.
Essa, aliás, parece a coisa mais difícil ainda, quando se pensa no caminhar do crente, esse que, como o nome diz: "Olha com os olhos da fé, para o que está além das circunstâncias", mesmo que não seja ele um religioso. Um cientista ateu, tem igualmente que saber esperar pelas respostas de um experimento, ou de uma pesquisa.
Nesse campo, percebo o quanto o perseverar foi e é uma matéria cara, ao olhar aos relatos bíblicos.
Neles, há histórias que bastem de situações que exigiram muita firmeza entre o primeiro passo - as ações e feitos - e o resultado esperado. Sempre que teimaram em encurtar a coisa, deram com os burros n'água. Alguns chegaram a fazer a coisa certa, mas na hora errada e do modo errado. E comprometam tudo.
Às vezes, assusto-me com a quantidade de pessoas - as mesmas, sempre - a atenderem apelos por oração, a frequentarem reuniões, campanhas e outros eventos do desespero à cata de bênçãos, livramentos e milagres. E não faltam os que se aproveitam dessa fraqueza, a explorar-lhes a deficiente disposição em aguardarem que dos céus, lhes chegue a resposta. E dispõem-se mesmo a pagar uma fortuna pela fantasia de poderem chegar lá, andando menos e esperando pouco.
Custa-nos discernir que "TUDO tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu" (Ec 3:1).
 Hoje, mais uma vez, fui lembrado disso, do quanto custa-me esperar pelo que não posso controlar. E dessa tentação terrível para apanharmos os atalhos, quaisquer que sejam eles, que nos tragam a ilusão de podermos avançar, ou darmos um jeitinho que agilize tudo, que encurte o caminho longo - e um tempo que desconhecemos - a percorrer.
Como bem recomenda-nos São Paulo: "e, depois de haver feito tudo, ficar firmes" (Ef 6:13).
Ao invés de tentar apanhar um caminho improvisado sob o risco de desviar-me do propósito, do alvo, preciso mesmo é de me firmar. E saber esperar! 

Rubinho Pirola

www.genizahvirtual.com.br