segunda-feira, 31 de maio de 2010

ANSIEDADE: DOENÇA DA DESCONFIANÇA


Jesus quase não falou de muitos temas que não saem de nossas conversas e preocupações.
Por exemplo, o amor entre um homem e uma mulher não tem Nele um poema, uma fala, um discurso. E acerca de sexo (outro campeão de audiência entre nós), Ele falou quando forçado pelas circunstâncias ou em razão de questões de outros.
Porém, por Ele, espontaneamente, tais temas não foram propostos.
O mesmo não se pode dizer da ansiedade.
A ela Jesus reserva significativo espaço no bojo de Seu ensino essencial: o Sermão do Monte.
De fato, isoladamente, é o assunto tratado de modo mais ilustrado e longo em todo o sermão (Mateus 5 - 7).
E por quê? Ora, as razões são muitas. E os básicos logo as associam às dificuldades da existência em todos os tempos; os psicólogos não resistem à tentação de associá-la ao mundo estressado no qual todos vivemos; tratando, assim, não da própria ansiedade, mas dos agentes contemporâneos de sua emulação.
De fato, há muitas causas secundárias quando se pensa em ansiedade. No entanto, no curto espaço deste texto, quero apenas falar acerca de três causas essenciais.
A ansiedade como perversão do olhar prospectivo. De fato, só somos ansiosos porque fomos dotados da bênção do olhar prospectivo. Fomos feitos capazes de olhar para o futuro mediante a imaginação, a lógica histórica, a acumulação de experiências e, sobretudo, em razão da necessidade humana de pensar no dia de amanhã, no qual, miticamente, estocamos o bem e o mal, dependendo de nosso estado de espírito. Todavia, como disse, a ansiedade é uma perversão de uma virtude: a bênção do olhar prospectivo. Na realidade, a ansiedade é a esperança vivida como experiência do pecado de ser, o qual se manifesta como incapacidade de crer no cuidado de Deus em razão de nosso descuidado para com Ele em amor. Assim, ansiedade é a expectativa de que no amanhã estaremos em perigo. O pecado perverteu todo olhar perspectivo e prospectivo.
A ansiedade como a esperança da Queda. Na realidade, a ansiedade é a maligna manifestação da “esperança na Queda”. Num mundo onde o ser se sabe afastado de Deus, toda expectativa é sempre contra nós, e sua forma existencial e psicológica de se fazer desesperança é mediante a ansiedade.
A ansiedade como desconfiança de Deus. Quando Jesus enfatizou a ansiedade como problema, o que Ele diagnosticou como causa foi a falta de confiança real no Deus real, no Deus que cuida, que é Pai, que está atento, que se dedica a ervas e pássaros, e, portanto, tem muito mais razão para cuidar da existência humana. E tudo quanto Jesus disse acerca da ansiedade se faz concluir com um convite a entrega total à confiança no reino de Deus; ou no Deus que reina sobre a vida; especialmente sobre os detalhes mais sutis. Assim, Jesus mandou que a fonte da energia espiritual e vital de cada um de nós se concentrasse apenas nas coisas que carregam o espírito do reino de Deus, pois, assim, seremos agidos por Deus, que é o que faz com que todas as coisas necessárias à vida nos sejam naturalmente acrescentadas.
Onde há ansiedade, aí ainda não há a prevalência da confiança. Ou, então, aí se instalou “um vício de sentir contra nós”, o qual só pode ser vencido mediante a entrega em fé ao amor e aos cuidados misteriosos do Pai.
Nele,
Rev. Caio Fábio d´Araújo

www.caiofabio.com

sábado, 8 de maio de 2010

POR UMA IGREJA DA IMPERFEIÇÃO


Louvo a Deus pela igreja não ser um lugar insuportavelmente perfeito. Por ela ser um ambiente de trôpegos, de pecadores alcançados pela graça, de marinheiros inexperientes lidando com as furiosas ondas do mar da história. Imperfeitos, graças a Deus.
Ainda bem que não temos a teologia por completo, pois seríamos mentes encarceradas no domínio dogmático, mentes ávidas por definir (um passo para assumir o controle); mentes que não respeitariam limites da ignorância. Mentes seletivas, onde só os que "pensam" poderiam ser dignos de nossa companhia. Imperfeitos, graças a Deus.
Como é bom saber que não temos a melodia dos anjos. Por melhor que cantemos, ainda somos desafinados quando o assunto é adoração. Ainda não temos a arte por completo. Ainda nem de longe temos a canção da vida. Fazemos apenas um dó-ré-mi iniciante, coisa de amador, coisa de criança. Imperfeitos, graças a Deus.
É lindo saber que erramos. Esquecemos a letra do hino, o versículo bíblico, a data do batismo. Fazemos orações rápidas demais, interesseiras demais (os pedintes da religiosidade sabem do que estou dizendo...). O incrível é que Deus ouve! Ele nos ouve! Jesus é Deus deixando de ouvir o cântico dos Serafins (Is. 6) para escutar conversas de pescador. Imperfeitos, graças a Deus.
Ainda amo a igreja por isso. Por força do ofício profético, preciso denunciar os males, criticar, apontar o dedo para a ferida, mas sei que faço parte do corpo, o que dói no corpo dói em mim. Prossigo amando a igreja, fazendo parte do baile dos imperfeitos. Chorando ao pé da cruz, caminhando aqui, caindo lá, levantando mais na frente. Imperfeito, prossigo para o alvo!
Aos imperfeitos um abraço cheio da deliciosa utopia do Reino.

Alan Brizotti
www.genizahvirtual.com