domingo, 22 de agosto de 2010

VENHA O TEU REINO

A segunda súplica de Jesus é pela manifestação do seu reino: "Pai nosso que estás nos céus (…), venha a nós o teu reino (…), assim na terra como no céu". É a oração mais radical que um cristão pode fazer. O reino de Deus é o governo de Deus entre nós. Suplicar dizendo: "venha o teu reino" é invocar o Rei e seu governo sobre nós. Os cristãos do primeiro século entenderam a oração de Jesus e, ao suplicarem "Pai nosso, venha a nós o teu reino", todo o comportamento deles, não só pessoal, mas comunitário, foi transformado a partir desta nova realidade. Foram tomados pelo desejo de conhecer melhor a Deus e sua palavra, de viver em comunhão com os irmãos, abrindo suas casas para receber a nova comunidade do reino. Tinham profundo e sincero temor de Deus (submissão) e o poder do novo Rei se manifestava entre eles. Viviam de forma solidária suprindo as necessidades uns dos outros. Oravam, jejuavam, adoravam e, enquanto estas coisas aconteciam, o Senhor lhes acrescentava tudo o que necessitavam no dia a dia, inclusive novos convertidos (At 2:42-47). Era uma igreja que orava venha a nós o teu reino.
Justino Mártir (100-165) dizia que: "Nós, que antigamente nos alegrávamos nas relações sexuais fora do casamento, agora nos mantemos totalmente castos; usávamos a magia, mas agora nos dedicamos ao bem e ao Deus eterno; valorizávamos acima de qualquer coisa a aquisição de riquezas e bens, mas agora trazemos o que temos para um estoque comum e o repartimos com todos os necessitados; odiávamos e destruíamos uns aos outros, não convivíamos com pessoas de outras raças por causa de seus costumes diferentes, mas desde que Cristo veio, temos um relacionamento ótimo, oramos por nossos inimigos e nos esforçamos para convencer os que nos odeiam injustamente de que devem viver de acordo com os bons preceitos de Cristo, para que participem conosco da mesma esperança feliz pela recompensa do Deus que governa tudo". É um testemunho de uma igreja que também orava venha a nós o teu reino.
Nos anos 50 e 60 o mundo foi impactado pelo testemunho de um pastor batista, negro, que liderou uma das maiores revoluções pacifistas contra o racismo. Depois de receber várias ameaças de morte, numa madrugada de sábado para domingo, o Rev. Martin Luther King foi despertado por um telefonema que o deixou assustado. Levantou, foi para a cozinha de sua casa e depois de tomar um café preocupado com a segurança de sua esposa e filhos, orou assim: "Senhor, tenho estado de pé por aquilo que creio ser justo. As pessoas estão olhando para mim e pela minha liderança, se eu permanecer diante deles sem força e coragem, eles fracassarão. Estou no fim das minhas forças. Não tenho mais energia. Não tenho mais nada. Cheguei num ponto onde não consigo mais seguir sozinho". Mais tarde ele compartilhou com sua esposa: "Naquele momento experimentei a presença de Deus como nunca havia experimentado. Parecia que ouvia sua voz me dizendo: permaneça de pé pela justiça, permaneça de pé pela verdade e eu estarei ao seu lado sempre." Quando ele se levantou da mesa, estava tomado por uma nova coragem e confiança e pronto para encarar o que tinha pela frente. Ele também orou venha a nós o teu reino.
Para os judeus, a história é linear. Ela tem começo, meio e fim. É uma história que caminha para um clímax que é a intervenção de Deus na história. Quando Jesus prega o seu primeiro sermão numa sinagoga de Nazaré, ele diz: "O Espírito do Senhor Deus está sobre mim pelo que me ungiu para pregar boas novas aos quebrantados (…)". E termina afirmando: "hoje se cumpriu esta escritura". Deus interveio na história. O reino chegou. A nova ordem foi estabelecida.
Nesta oração, estamos clamando pela manifestação deste reino já presente entre nós. Não oramos dizendo leva-nos para o teu reino, mas, sim, venha o teu reino. Não somos nós que trazemos o reino, como não somos nós que tornamos o nome de Deus santo. Só Deus pode tornar seu nome santo, só Deus pode manifestar entre nós o seu reino. Esta súplica expressa nosso desejo de ver o reino de Deus presente entre nós. Vivemos entre o reino já manifestado em Cristo e o reino que será plenamente consumado quando Ele voltar. Naquele dia todas as coisas serão endireitadas, nossos olhos plenamente abertos, nossa mente totalmente transformada, nossos afetos completamente redimidos, nossa comunhão com Deus inteiramente restaurada.
Jesus inaugurou o reino. O reino de Deus é o jeito que Deus deseja que seu povo viva. É o governo de Deus sobre o seu povo. É a restauração da nova humanidade. Todo o Sermão do Monte é um retrato disto. Quando suplicamos: "venha o teu reino (…), assim na terra como no céu", oramos assim:
Pai, antecipa estas coisas. Manifesta o teu governo. Quebra todas as resistências da minha alma. Torna-me mais obediente aos teus mandamentos. Enche-me de tua compaixão. Manifeste a tua justiça entrenós. Pai, torna-me mais humilde, manso e puro para que eu viva do jeito que o Senhor Jesus, teu santo Filho, me ensinou a viver. Pai, cura a minha cegueira para que eu contemple a realidade com os mesmos olhos que Jesus, meu Rei e Senhor, contemplam.
Pai, transforma o meu medo em coragem para que eu ame a justiça e a busque como o Senhor espera que eu faça. Pai, faça de mim um instrumento de tua paz na minha família, no meu ambiente de trabalho, entre os meus vizinhos. Pai, usa-me para levantar os abatidos, socorrer os necessitados, restaurar os que tem o coração ferido, abrir os olhos dos cegos e ajudar os paralíticos a andarem.
Pai, não me deixe andar ansioso em relação ao futuro, comida, roupa, moradia e outras coisas que consomem minhas forças e energias, ajuda-me a crer que cuidas de mim e me enche de paixão pelo teu reino, pelo teu evangelho e tua justiça, certo de que as outras coisas me serão dadas.
Pai, reverte a ação do pecado. Manifeste entre nós os teus mandamentos justos e bons. Usa-nos como ministros da reconciliação. Restaure a humanidade corrompida e reine soberanamente em toda a tua criação. É uma oração que tem implicações sobre nossa conversão, nossa identidade. É uma oração que somente aqueles que entram no reino e participam dele o fazem. Somos chamados por Cristo a entrar e participar do reino de Deus. Quem faz parte do reino? O pobre e humilde de espírito, aquele que faz a vontade do Pai, aqueles cuja justiça excede a dos escribas e fariseus, aquele que se faz como uma criança.
É assim que temos orado? Quando apresentamos nossos pedidos a Deus, levamos em conta a honra do seu nome e a presença do seu reino em primeiro lugar? Quando oramos pelo emprego, salário, saúde, família, nação, orientação e direção, é para que o reino de Deus se manifeste em todas estas áreas? A oração que Jesus ensinou começa assim: "Pai nosso, santificado seja o teu nome. Venha a nós o teu reino".

Pr. Ricardo Barbosa

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